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Saudação a Sydney Limeira Sanches, meu amigo

        Amanhecia hoje quando, ainda de olhos fechados, comecei a fazer um exercício de memória. E minha memória é péssima, devo dizer. As lembranças surgem em cenas soltas e passam desconexas.  Pilotis da PUC, Ala Kennedy. Março de 1982. Por acaso, nos encontramos sentados lado a lado na última fileira de cadeiras, Sydney e eu, dois desconhecidos, durante a primeira aula de Introdução ao Direito. E assim, lado a lado, seria durante os cinco anos seguintes, até a formatura. Depois de oito meses morando em Copacabana e sem conhecer ninguém, Sydney foi o primeiro entre os cariocas que me disse:  -Passa lá em casa.            A diferença foi que me deu o endereço.  Sydney é tijucano.            Com a TV na garagem e entre os seus amigos de infância, o Reco, o Dado, o Osvaldo e o Girino, na calçada pintada de verde-amarelo, assisti o primeiro jogo da Copa de 82. Brisa se chamava a ...
Postagens recentes

4 sonetos

Um regente do acaso para Raul Sarasola O encarte da exposição traz o artista empilhando discos de pedra lisa -gravity meditation não dualista- em três fotografias sem camisa (A pilha suspensa em ésse, o desnível, repele a queda mas captura a ameaça Aproxima o possível do impossível alinhando o centro de cada massa) Vem do caos o seu olhar polifacético Raul se entrega ao piche, ao ferro, à tela e, absorto, do escombro tira algo poético Quando plena, a ausência age, rege o acaso A face surge sempre com atraso É o abstrato sumindo que a torna bela Sant’Ana, 19 de junho 2016 Fotos em exibição Há uma série oculta em cada p&b A Chirca, O Miniabismo, O Véu, A Crosta Essa falésia é e não é uma ostra O longe vira perto, o vesgo vê Seria o lírio um pássaro pousado? Onde a sombra muda o ponto de vista outro real, que o filme não registra, some ao passar apenas vislumbrado Um campo, o céu, tão remota a brancura O nanquim de um salso no vento ao fundo O atemporal que entre as rajadas dura E pre...

Explicações ao Santiago

  Ontem, para fazer o convite de assistir um filme juntos, perguntaste se eu estava trabalhando, porque é o que tua mãe diz sobre as horas que passo na biblioteca. Te disse que o meu trabalho era cuidar da estância e que ela chama de trabalho para vocês entenderem que o pai de vocês não é diferente do pai do Álvaro que tem uma loja ou dos outros colegas da escola cujos pais tem empregos. Eu escolhi trabalhar em campanha porque é uma forma de não ter horários fixos durante o meu dia. – E poder ficar aqui como eu fico no quarto jogando meu Play... – Não, filho, não é bem um Playstation. O videogame, depois de horas de jogo, não deixa nada, enquanto aqui fica o que eu penso, porque escrevo meus pensamentos no papel (ou no word). E não, não dá dinheiro. E sim, se fossemos viver da venda dos livros não viveríamos. – Então qual a razão, pai, de passar tanto tempo lendo e escrevendo se não serve para nada. – É um ofício. E lá fomos nós proc...

Outra leitura de "Oriente", por Paulo Franchetti

Passei os últimos dias navegando erraticamente pelo volume "Oriente", de Thomaz Albornoz Neves. São 771 páginas, encadernadas em capa dura, em edição rigorosamente do autor. Quero dizer: o trabalho de seleção dos textos, a tradução, as anotações, a chancela editorial, o projeto gráfico e a diagramação, tudo.  Não vou longe nestes comentários. Esse mar de poesia é amplo, a gente tem de passar entre Cila e Caríbdis várias vezes, tem de interpretar, sem ouvir, as reações desse Ulisses ao contínuo canto das sereias orientais e, por fim, não poucas vezes, na companhia imaginária dos leitores presentes e futuros, regalar-se no banquete, nos termos em que Carlos Alberto Nunes traduziu o momento da confraternização sagrada: “todos as mãos estendiam tentando alcançar as viandas”. Não li de enfiada, confesso. Um livro como esse é um companheiro de muitos anos. A gente mergulha, sai, respira, sente saudade e volta para nova imersão, exercício ou banho rápido. Outras vezes apenas para bu...

Postagens da Campanha -Primeiro Turno-

  15 de agosto A campanha começa oficialmente amanhã O serviço prestado aos brasileiros pelo bolsonarismo nos último quatro anos é imenso. Unir ignorância e agressividade ao liberalismo provocou desastres em várias esferas. Na institucional, ameaçando a democracia e o equilíbrio dos poderes, na ambiental, desmatando florestas e invadindo reservas, na sanitária, a gestão terraplanista da pandemia, na econômica, incapaz de implantar uma rede básica de proteção para os 35 milhões de miseráveis, na administrativa, comprando o impeachment do Centrão, na segurança, armando as milícias, na educação, reduzindo o orçamento -que já é ridículo- e implodindo as especializações. Poderia seguir indefinidamente... A preguiçosa corrupção dos tempos do Império, lenta, metastática, feita da praia em Angra. E a central, kubitschekiana, com o orçamento secreto. Sim, é enorme o serviço prestado pelo bolsonarismo. Desde a maxidesvalorização do cruzeiro que quebrou a indústria nacional em 1983 não tínham...

Orelha de "Oriente", por José Francisco Botelho

    A grande poesia é aquela que se mostra capaz de nos arrancar de nós mesmos, enquanto, simultaneamente, nos entranha naquilo que somos. Na vertiginosa proximidade ou na inconcebível distância —distância de mares, de terras, de séculos, de almas — esse paradoxo se revela de forma mais nítida. Por isso, a poesia do mundo é a senhora do tempo. Vejam bem: não digo que ela seja atemporal; ela existe no tempo, porém o cavalga, ou o navega, ou transita por ele, a jusante e a montante, como as ondinas da fábula. E é por isso que um grande poema escrito há três mil anos pode chegar até nós com a sinuosidade do instante presente, com o mistério das sensações e dos silêncios do corpo. Mas, para que surja a fagulha na transição de uma língua a outra, é necessário que o poema real seja traduzido por um real poeta. É então que a mágica acontece: de artífice a artífice, de criação a criação, o jogo de tempo e poesia se reacende e, nesse movimento, nos reconhecemos no longínquo e nos ree...

Postagens sobre Cuba

  13 de julho I A Comissão Executiva Nacional do PT soltou ontem nota de apoio ao governo cubano, responsabilizando o embargo dos EUA pela crise pandêmica na ilha. II Que o embargo seja um instrumento de pressão política condenável não há discussão. Especialmente porque atinge diretamente a população. Os países submetidos a embargos comerciais por parte dos EUA são: Bielorrússia, Burundi, Congo, Crimeia (Ucrânia), Coreia do Norte, Cuba, Irã, Iêmen, Líbano, Líbia, República Centro-Africana, Rússia, Síria, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Venezuela, Zimbábue e Balcãs Ocidentais. O embargo a Cuba é o mais antigo e já foi condenado pela ONU em mais de uma ocasião, apesar de o Porto de Muriel, pago pela Dilma, estar em pleno funcionamento. Por outro lado, de acordo com o Humans Rights Watch, a República Socialista Marxista-leninista Unitária de Cuba (sim, marxista-leninista unitária, meu deus) continua a punir a dissidência. O número de detenções arbitrárias e de curta duração de defenso...