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Mostrando postagens de agosto 30, 2020

Paulo Franchetti. Duas Impressões de leitura.

I Insônia Tenho a impressão de que desenvolvemos no Brasil uma espécie de aversão à lírica. João Cabral tem um papel relevante nisso, sem dúvida. Assim como a poesia concreta, cujo significado nunca vai muito além do procedimento. A verdade é que Cabral terminou por ser mais ou menos onipresente, nas últimas décadas. Vi tantas vezes glosado o tema da pedra ou da faca, que certa vez me referi ao grande contingente de imitadores ou admiradores incorporantes como “o clã da pedra”. E sinceramente creio que todo poeta contemporâneo deveria sentir-se envergonhado de glosar pela milésima vez os lugares preferenciais da poesia de Cabral. Também me parece verdadeiro que a poesia concreta teve um papel importante na condenação ao lirismo, que é exorcismado brandindo um anátema tão vazio quanto “rigor”, que é pedra de toque de elogio: “confessionalismo”. Como crítico, sempre tentei compreender o movimento e a tendência. Já como leitor, leio com algum tédio os protestos contra a poesia lírica, “co

Raul Ellwanger. Sobre "À espera de um igual"

Thomaz Albornoz Neves não tem "aquele" sobrenome complicado (o meu...) mas também é do clã dos Ellwanger, que dentro de 7 anos completará 200 anos de Brasil. O importante mesmo é que escreve alta poesia, sintetizada agora neste lançamento cuidadoso-quase-carinhoso, onde entorna 33 anos de lavor e percorre desde sua paisagem fronteiriça e marítima , até rincões em bairros onde viveu, da Glória carioca a algum suburbio siciliano. Espelho da alma, visão do cosmos numa toca de mulita, imensidões soldadas em mínima linguagem na tradição de Octavio Paz, a vida e a morte no fio de navalha do fazer poético: deste barro se cozinha a ceramica do Thomaz. Filho do poeta, médico e compositor santanense Getulio Ellwanger Neves, neto de Lira Ellwanger, seu bivô Guilherme (a quem conheci aos 7 anos de idade) foi o irmão querido do meu vô Jacob, e que, por caminhos nunca antes suspeitados, migrou de Candelária para Livramento. Entre tantos laboriosos "ervângui", seguem alguns ent

Ricardo Almeida. Considerações sobre o livro “À ESPERA DE UM IGUAL”. Seguidas da resposta do autor.

Porto Alegre, 29 de agosto de 2020 Thomaz:  Uma vez, um jornalista tentou encurralar um poeta numa entrevista. Perguntou: “Afinal, por que escreves?”. E o poeta respondeu, para desconcerto do jornalista: “Escrevo para ser feliz”.  Não sabemos o que é mais relevante: a pergunta ou a resposta, e podemos fazer conjecturas filosóficas diversas. Sabemos da importância de questionar, base da filosofia e de tantas áreas, e das respostas de cada um. Vasculhas compreensão quando especulas: “Por que se escreve?”.  Todos nós, poetas, procuramos atingir a poesia. Nem sempre conseguimos, mas é uma busca permanente. Consegues, com frequência, atingir a poesia, e isso é algo muito significativo, faz muita diferença.  Tua poesia tem rosto, numa época em que há tanta poesia sem rosto na onda contemporânea. Tua poesia tem timbre, tem um estilo.  “À Espera de Um Igual” é um belo livro, contém a essência de uma vida. Percebe-se o esmerado fazer poético, os versos trabalhados com rigor. O livro todo tem qu