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Mostrando postagens de abril 27, 2008

Uma breve definição astrológica, por Martin Shulman

  Schulman define o sujeito com a lua natal na casa 12 como um "aspirador psíquico" do ambiente e de quem lhe rodeia. Disse assim, em um dos seus escritos, como se conversasse comigo: "... visto que te associas à essência, e não às palavras, não te verás influído pelas palavras dos outros, senão pela essência de quem encontras. Assim, percebes nas pessoas capas transparentes que a tua sensibilidade pessoal traduz. A dificuldade com esse tipo de identificação externa radica em que nunca te sentirás seguro de ti mesmo. Não saberás quem és. Tua identidade mudará a cada momento. Ao alinhares tua identidade com a dos demais, é possível que te sintas momentaneamente como se te encontrasses incluído no espaço vital dos outros. Mas a cada vez que o fizeres, perderás teu centro. Ao te lançares em uma cruza

O Abutre

Tanto tempo a girar os mesmo anéis de fome a terra some no céu A ver-se vagar de cima e ao redor do próprio voo As asas que o ar apaga O voo sem corpo, só voo parado no meio do nada que redemoinha em torno O ampara ainda esse tato que vaza os véus do espaço sem ter o que tocar

Via Ricasoli, Firenze, 1988

Por enquanto, estou satisfeito se posso escrever. Mais se escrevo na cama. Rodeado de livros e, se tenho sorte, regido pelo ritmo sereno de um cão ou de um gato, ou de ambos, sujeito ao ir e vir silencioso de quem me acompanhe. Escrevendo ou lendo desde cedo na manhã e até parte da tarde. E que no céu se veja pela janela alta o dia frio e o vento convide a permanecer dentro. Melhor se for um pequeno quarto de hotel, nem fora nem no centro, mais perto da costa que da cidade. E que o idioma local me deixe a sós com o meu próprio idioma. Mas não é o caso agora e aqui. É verão, Firenze está vazia de amigos e eu não tenho companhia. R. está com as irmãs, na Sicília. Restam os pelotões de turistas passando em baixo da minha janela atrás de um guarda-chuva vermelho, a bolha de murmúrios e depois novamente o silêncio. No final da tarde, vou correndo pelo Lungarno até o bosque da Universidade e jogo bola no time de estrangeiros contra os estudantes dos cursos de verão. O exercício serena o

Tanger 1 x Casablanca 0

Banco traseiro de um modelo anos 50, um Buik espaçoso. Estofado de couro verde garrafa. O menino púbere, a Mona Lisa septuagenária e a anoréxica adolescente de seios duros, caídos em cuia no tecido branco de sua bata manchada pela nata de colostro. A câmera vai do ombro do motorista, ao para-brisa de vidro grosso, e deste à cadeira de bebê jogada no assoalho do banco da frente. O carro balança como se navegasse. Sulca o calor do deserto com um rastro de poeira terracota, vista em aérea. Já foi feito o que era para ser feito. A venda. Eles retornam disso. Suando, o menino fecha a janela. A velha lhe arregaça a bata amassada, a unha suja subindo pela virilha. Apoia a cabeça em seu colo soltando o coque grisalho. A barra de sol na ponta dos seus cabelos brancos e ressecados ilumina as miríades de pó. O menino consente. Observa sua ereção como se não lhe pertencesse. Escanchada na largura do banco, o viso puído acima dos joelhos, a jovem mãe acomoda-se entre as pernas da velha. Tu