15 de agosto
A campanha começa oficialmente amanhã
O serviço prestado aos brasileiros pelo bolsonarismo nos último quatro anos é imenso. Unir ignorância e agressividade ao liberalismo provocou desastres em várias esferas.
Na institucional, ameaçando a democracia e o equilíbrio dos poderes, na ambiental, desmatando florestas e invadindo reservas, na sanitária, a gestão terraplanista da pandemia, na econômica, incapaz de implantar uma rede básica de proteção para os 35 milhões de miseráveis, na administrativa, comprando o impeachment do Centrão, na segurança, armando as milícias, na educação, reduzindo o orçamento -que já é ridículo- e implodindo as especializações.
Poderia seguir indefinidamente... A preguiçosa corrupção dos tempos do Império, lenta, metastática, feita da praia em Angra. E a central, kubitschekiana, com o orçamento secreto.
Sim, é enorme o serviço prestado pelo bolsonarismo. Desde a maxidesvalorização do cruzeiro que quebrou a indústria nacional em 1983 não tínhamos uma amostra tão explícita do que é a direita no poder.
Recomendo as cinco horas da entrevista do presidente ao site flow. A mentalidade de síndico, o humor de bullying, o medo mal disfarçado, o poder do ignorante. Está tudo ali.
13 de setembro
Apoios
Marina Silva deu mostras de humildade, desprendimento e comprometimento com a própria história ao declarar apoio a Lula. A mesma falta de rancor demonstrada por Cristóvão Buarque que, desde o ano passado, escreve, debate e convoca a favor do candidato do PT.
Como Ciro, ambos foram ministros de Lula.
O massacre a que Marina Silva foi submetida em 2012 por parte do Partido dos Trabalhadores é algo que só aumenta o tamanho do seu gesto.
O motivo desta postagem, entretanto, é defender a postura de Ciro Gomes.. Alguém deve seguir enfrentando a polarização. É saudável.
Talvez pudéssemos inverter a questão por um minuto. No lugar de responsabilizar o pedetista pelo segundo turno, porque não nos perguntamos o que Lula poderia fazer para atrair seu apoio?
E se há algo, por que não faz?
19 de setembro
Intolerâncias
Quem acompanha futebol e associa o comportamento das torcidas à sociedade impressionou-se com as manifestações racistas orquestradas pela torcida do Atlético de Madrid ontem no entorno do estádio local.
Não nos enganemos, são hordas de brancos, cristãos, conservadores e ignorantes, como muitos de nós. São nazistas também. Alguns descarados, outros latentes (como muitos de nós).
Meu ponto aqui é que a intolerância tem graus. Ela é primitiva sempre, mas varia na forma e na intensidade em relação a quem aparenta, age ou pensa diferente do outro.
O episódio de Madrid não é isolado, é histórico. Nos mostra que o ovo da serpente nunca deixou de ser chocado. A violência tribal que ressurge clama por identidade. É mais fácil ser ninguém atrás de uma bandeira.
Este tempo que nos dilui como indivíduos, grupos e nação oferece também a perspectiva de nos vermos apenas como espécie: juntos, somos todos humanos.
Repensemos o fanatismo em ampla escala. Do nós x eles a quem admira Brilhante Ustra. E interessa ver como a intolerância é estrutural e que, mesmo em graus diferentes, polariza.
Quem acompanha futebol e associa o comportamento das torcidas à sociedade impressionou-se com as manifestações racistas orquestradas pela torcida do Atlético de Madrid ontem no entorno do estádio local.
Não nos enganemos, são hordas de brancos, cristãos, conservadores e ignorantes, como muitos de nós. São nazistas também. Alguns descarados, outros latentes (como muitos de nós).
Meu ponto aqui é que a intolerância tem graus. Ela é primitiva sempre, mas varia na forma e na intensidade em relação a quem aparenta, age ou pensa diferente do outro.
O episódio de Madrid não é isolado, é histórico. Nos mostra que o ovo da serpente nunca deixou de ser chocado. A violência tribal que ressurge clama por identidade. É mais fácil ser ninguém atrás de uma bandeira.
Este tempo que nos dilui como indivíduos, grupos e nação oferece também a perspectiva de nos vermos apenas como espécie: juntos, somos todos humanos.
Repensemos o fanatismo em ampla escala. Do nós x eles a quem admira Brilhante Ustra. E interessa ver como a intolerância é estrutural e que, mesmo em graus diferentes, polariza.
24 de setembro
Tortura cívica
Para além do fetiche das listinhas de livros vermelhos e dos videos de famosos defendendo a força maior, procuro um motivo real, fora das campanhas de influência que tanto ajudam a não pensar por conta própria, que me convença a retirar o apoio a Ciro Gomes no primeiro turno.
A chantagem da democracia intimidada é uma manobra eleitoreira que cria a ameaça para dar a solução. Como alguém em sã consciência pode pensar que Bolsonaro terá forças para acabar com a Nova República, virar a mesa e instaurar uma ditadura militar em 2022?
Mas eu dizia procurar um motivo prático que adoçasse um pouco o amargo da boca. O argumento cai de maduro de tão óbvio. Se Bolsonaro não reconhecer a derrota no primeiro turno acusando as urnas eletrônicas, estará invalidando o pleito de todo o novo Congresso. Qual deputado ou senador eleito apoiará a acusação de fraude que invalida o seu próprio mandato?
Ironia das ironias, só sairemos da arapuca pela mão de quem ajudou a armá-la. O melhor para todos é terminar com esta tortura cívica o quanto antes. Que Lula vença no primeiro turno.
Para além do fetiche das listinhas de livros vermelhos e dos videos de famosos defendendo a força maior, procuro um motivo real, fora das campanhas de influência que tanto ajudam a não pensar por conta própria, que me convença a retirar o apoio a Ciro Gomes no primeiro turno.
A chantagem da democracia intimidada é uma manobra eleitoreira que cria a ameaça para dar a solução. Como alguém em sã consciência pode pensar que Bolsonaro terá forças para acabar com a Nova República, virar a mesa e instaurar uma ditadura militar em 2022?
Mas eu dizia procurar um motivo prático que adoçasse um pouco o amargo da boca. O argumento cai de maduro de tão óbvio. Se Bolsonaro não reconhecer a derrota no primeiro turno acusando as urnas eletrônicas, estará invalidando o pleito de todo o novo Congresso. Qual deputado ou senador eleito apoiará a acusação de fraude que invalida o seu próprio mandato?
Ironia das ironias, só sairemos da arapuca pela mão de quem ajudou a armá-la. O melhor para todos é terminar com esta tortura cívica o quanto antes. Que Lula vença no primeiro turno.
p.s
E um adendo à postagem de mais cedo sobre a tortura cívica.
É estarrecedor -para mim, pelo menos, que sou uma besta quadrada- a estatística de que Bolsonaro ganha na faixa de maior poder aquisitivo.
Devo associar o dinheiro com a ignorância? Ou com a avareza? Ou com ambos. Uma sociedade que enriquece excluindo é vergonhosa.
É muito triste pensar que quem tem mais vota defendendo seus interesses e os da sua classe e não em uma sociedade menos intolerante e mais justa, como deveria ser natural para quem estudou. E rico estuda, ou me engano?
Mas se vê que acesso ao conhecimento e humanismo não são necessariamente a mesma coisa. Atenção para a estatística, ela nos mostra o Brasil.
É estarrecedor -para mim, pelo menos, que sou uma besta quadrada- a estatística de que Bolsonaro ganha na faixa de maior poder aquisitivo.
Devo associar o dinheiro com a ignorância? Ou com a avareza? Ou com ambos. Uma sociedade que enriquece excluindo é vergonhosa.
É muito triste pensar que quem tem mais vota defendendo seus interesses e os da sua classe e não em uma sociedade menos intolerante e mais justa, como deveria ser natural para quem estudou. E rico estuda, ou me engano?
Mas se vê que acesso ao conhecimento e humanismo não são necessariamente a mesma coisa. Atenção para a estatística, ela nos mostra o Brasil.
29 de setembro
Equilíbrios
O poder se mede pela capacidade de influenciar o outro em nosso benefício. Grosso modo, submete-se com um objetivo em comum (alianças), com a influência econômica e política (pressão) ou com a força (ameaça bélica). Na maioria das vezes tudo vem junto e misturado.
Que o sistema financeiro explora continentes não é novidade para ninguém. O fluxo de informação dilui uma cultura específica na cultura global, as riquezas naturais servem à comunidade internacional, tudo vira reserva de mercado gerida assimétricamente. Os mais ricos são mais ricos mês a mês e os mais pobres menos pobres século a século.
A exigência é manter um mínimo equilíbrio no processo. Viver em paz enquanto isso. Esta é a versão vigente da dominação. E assim o diabo nos convence que não existe.
Quando a Rússia invade a Ucrânia e anexa 15% do seu território ameaça esse equilíbrio. Quando a democracia é atacada também.
Que o sistema financeiro explora continentes não é novidade para ninguém. O fluxo de informação dilui uma cultura específica na cultura global, as riquezas naturais servem à comunidade internacional, tudo vira reserva de mercado gerida assimétricamente. Os mais ricos são mais ricos mês a mês e os mais pobres menos pobres século a século.
A exigência é manter um mínimo equilíbrio no processo. Viver em paz enquanto isso. Esta é a versão vigente da dominação. E assim o diabo nos convence que não existe.
Quando a Rússia invade a Ucrânia e anexa 15% do seu território ameaça esse equilíbrio. Quando a democracia é atacada também.
30 de setembro
Debate
I
Assistimos, bem quem teve paciência para seguir o show de horrores que foi o debate de ontem, assistiu...
Mas não ouvi nem li comentários sobre o número de candidaturas de direita em relação às de esquerda. O milionário Filipe Dávila encantado por si mesmo, vendendo seu próprio exemplo de vida, o falso padre analfabeto funcional do PTB (Roberto Jefferson é realmente o anarquista mor da república), a senadora Soraya que não consegue articular uma frase com mais de seis palavras -concisão inversa à prolixidade do dilmês- e essa loba com ares de namoradinha do Brasil em pele de cordeiro, a Tebet. Todos de direita, apoiando e fingindo criticar Bolsonaro.
À esquerda, pasmem, dois brigando sorrindo.
II
I
Assistimos, bem quem teve paciência para seguir o show de horrores que foi o debate de ontem, assistiu...
Mas não ouvi nem li comentários sobre o número de candidaturas de direita em relação às de esquerda. O milionário Filipe Dávila encantado por si mesmo, vendendo seu próprio exemplo de vida, o falso padre analfabeto funcional do PTB (Roberto Jefferson é realmente o anarquista mor da república), a senadora Soraya que não consegue articular uma frase com mais de seis palavras -concisão inversa à prolixidade do dilmês- e essa loba com ares de namoradinha do Brasil em pele de cordeiro, a Tebet. Todos de direita, apoiando e fingindo criticar Bolsonaro.
À esquerda, pasmem, dois brigando sorrindo.
II
Quem não mente, ilude
Por que Lula não assume que realmente houve corrupção? Portal da transparência, independência da PF e do MP, todos os mecanismos de combate aos desmandos foram instaurados sob os governos do PT; por que então seguir negando o que sabemos?
O orçamento secreto. Por que pegaram tão leve com Bolsonaro? Tudo foi como se nada disso importasse mais. O sarrafo da eleição é o do falso padre.
E Ciro? Ciro virou a máscara de cera do João Santana. Derretendo.
O orçamento secreto. Por que pegaram tão leve com Bolsonaro? Tudo foi como se nada disso importasse mais. O sarrafo da eleição é o do falso padre.
E Ciro? Ciro virou a máscara de cera do João Santana. Derretendo.
31 de setembro
Velório democrático
É impressão minha ou a festa democrática está amarga? Onde está a alegria do voto? A paixão pelo debate de ideias e propostas? A identificação com o pensamento e os valores deste ou daquele candidato?
Tu, eleitor do Bolsonaro, tens o Bolsonaro como modelo de indivíduo? E tu, eleitor do Lula, acreditas ainda na ficção do retirante que virou sindicalista e pai dos pobres?
Não né. O eleitor do Bolsonaro não se identifica com o mito, salvo o radical. Vota nele por aversão ao PT. E o eleitor do Lula, vota no Lula para evitar a tragédia que seria seguir com o atual governo.
Qualquer deles, na ausência do outro, perderia para um terceiro. Fosse Ciro, Tebet, Leite, Dória, Huck...
Isto, desculpem, não é democracia. Democracia é poder escolher em vez de rejeitar. Estamos presos em uma polarização tão cruel que é capaz de juntar Caetano Veloso com Geddel Viera Lima, na inteligente provocação do Ciro.
Sim, só alguém como Bolsonaro é capaz de juntar Caetano Veloso com o homem que tinha 51 milhões de reais em oito malas dentro de um apartamento vazio.
E Lula.
É impressão minha ou a festa democrática está amarga? Onde está a alegria do voto? A paixão pelo debate de ideias e propostas? A identificação com o pensamento e os valores deste ou daquele candidato?
Tu, eleitor do Bolsonaro, tens o Bolsonaro como modelo de indivíduo? E tu, eleitor do Lula, acreditas ainda na ficção do retirante que virou sindicalista e pai dos pobres?
Não né. O eleitor do Bolsonaro não se identifica com o mito, salvo o radical. Vota nele por aversão ao PT. E o eleitor do Lula, vota no Lula para evitar a tragédia que seria seguir com o atual governo.
Qualquer deles, na ausência do outro, perderia para um terceiro. Fosse Ciro, Tebet, Leite, Dória, Huck...
Isto, desculpem, não é democracia. Democracia é poder escolher em vez de rejeitar. Estamos presos em uma polarização tão cruel que é capaz de juntar Caetano Veloso com Geddel Viera Lima, na inteligente provocação do Ciro.
Sim, só alguém como Bolsonaro é capaz de juntar Caetano Veloso com o homem que tinha 51 milhões de reais em oito malas dentro de um apartamento vazio.
E Lula.
2 de outubro
O último mandato do século XX
Não sabemos se o PT elegerá o presidente do Brasil neste domingo ou no segundo turno. Se não eleger já, Tebet e Ciro terão, por coerência, de apoiar Lula no desempate.
O ano de 2026 muito provavelmente encerrará a biografia de um dos maiores políticos da República. Com ele se encerrará também o século XX no Brasil. Finalmente.
Que país o partido mais hegemônico da história -o único com cinco mandatos pelas urnas- dará aos brasileiros do século XXI?
Um país fisiológico, corrupto, polarizado e contaminado por ideologias anacrônicas ou um país pós-moderno, reestruturado, inclusivo, ecológico e moralizado politicamente?
A pergunta merece uma reflexão séria por parte do lulismo. Trata não só do que o Brasil é. Mas de quem vocês querem ser.
Não sabemos se o PT elegerá o presidente do Brasil neste domingo ou no segundo turno. Se não eleger já, Tebet e Ciro terão, por coerência, de apoiar Lula no desempate.
O ano de 2026 muito provavelmente encerrará a biografia de um dos maiores políticos da República. Com ele se encerrará também o século XX no Brasil. Finalmente.
Que país o partido mais hegemônico da história -o único com cinco mandatos pelas urnas- dará aos brasileiros do século XXI?
Um país fisiológico, corrupto, polarizado e contaminado por ideologias anacrônicas ou um país pós-moderno, reestruturado, inclusivo, ecológico e moralizado politicamente?
A pergunta merece uma reflexão séria por parte do lulismo. Trata não só do que o Brasil é. Mas de quem vocês querem ser.
3 de outubro
Frente Ampla
Nada leva a crer na manipulação deliberada por parte dos institutos de pesquisas e das avaliações decorrentes deles.
Não se sabe o que é mais grave. Se a opinião pública baseada em tendências falsas, se as análises dos comentaristas políticos dando por sentada uma realidade inexistente.
A onda conservadora veio para ficar. Quanto dela deve à rejeição de Lula e do PT e quanto deve aos valores representados pelo bolsonarismo, não sabemos. São águas misturadas.
O Brasil está sob o impacto do fatos. Enquanto a esquerda precisa unir esforços para diluir o antipetismo em uma frente ampla, Bolsonaro precisa moderar seu bolsonarismo. Ambos se diigem ao Centro.
O PT precisa de Ciro e o terá, certamente. Veremos de que madeira é feita a senadora Tebet.
Nada leva a crer na manipulação deliberada por parte dos institutos de pesquisas e das avaliações decorrentes deles.
Não se sabe o que é mais grave. Se a opinião pública baseada em tendências falsas, se as análises dos comentaristas políticos dando por sentada uma realidade inexistente.
A onda conservadora veio para ficar. Quanto dela deve à rejeição de Lula e do PT e quanto deve aos valores representados pelo bolsonarismo, não sabemos. São águas misturadas.
O Brasil está sob o impacto do fatos. Enquanto a esquerda precisa unir esforços para diluir o antipetismo em uma frente ampla, Bolsonaro precisa moderar seu bolsonarismo. Ambos se diigem ao Centro.
O PT precisa de Ciro e o terá, certamente. Veremos de que madeira é feita a senadora Tebet.
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