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Mostrando postagens de novembro 20, 2011

Campo Sem-fim

                                                 Celina Hamilton Albornoz Ir Eu lhe falei de um lugar onde nos sentiríamos no deserto. Sua compreensão me confortou. Partimos no silêncio. Mudos pelo campo sem-fim. Agarrado a minha mão, quase um menino, sua confiança não pesa nada perto dos pensamentos que não consigo tirar de mim. Viemos do acampamento dos trabalhadores sem terra. A mãe dele desapareceu depois que a polícia invadiu o barraco de lona, levando o filho mais velho. O pai morrera há pouco. Eu não conheci o meu. Nem sei se minha mãe sabia quem era. Quando encontrei o menino no meio da multidão revoltada, mãos nos ouvidos, grito sem voz, senti minha experiência de volta nas suas pernas franzinas, nos seus olhos esbugalhados. Mas não chorei. Nunca choro. Embora ainda doa o aperto do homem que me desgraçou, furando minha pele com suas unhas. Gargalhando. Depois de me usar, me entregou a uma dona. Passei um tempo vendendo meu corpo, jurando nunca mais me comover.