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Postagens

Explicações ao Santiago

  Ontem, para fazer o convite de assistir um filme juntos, perguntaste se eu estava trabalhando, porque é o que tua mãe diz sobre as horas que passo na biblioteca. Te disse que o meu trabalho era cuidar da estância e que ela chama de trabalho para vocês entenderem que o pai de vocês não é diferente do pai do Álvaro que tem uma loja ou dos outros colegas da escola cujos pais tem empregos. Eu escolhi trabalhar em campanha porque é uma forma de não ter horários fixos durante o meu dia. – E poder ficar aqui como eu fico no quarto jogando meu Play... – Não, filho, não é bem um Playstation. O videogame, depois de horas de jogo, não deixa nada, enquanto aqui fica o que eu penso, porque escrevo meus pensamentos no papel (ou no word). E não, não dá dinheiro. E sim, se fossemos viver da venda dos livros não viveríamos. – Então qual a razão, pai, de passar tanto tempo lendo e escrevendo se não serve para nada. – É um ofício. E lá fomos nós procurar
Postagens recentes

Outra leitura de "Oriente", por Paulo Franchetti

Passei os últimos dias navegando erraticamente pelo volume "Oriente", de Thomaz Albornoz Neves. São 771 páginas, encadernadas em capa dura, em edição rigorosamente do autor. Quero dizer: o trabalho de seleção dos textos, a tradução, as anotações, a chancela editorial, o projeto gráfico e a diagramação, tudo.  Não vou longe nestes comentários. Esse mar de poesia é amplo, a gente tem de passar entre Cila e Caríbdis várias vezes, tem de interpretar, sem ouvir, as reações desse Ulisses ao contínuo canto das sereias orientais e, por fim, não poucas vezes, na companhia imaginária dos leitores presentes e futuros, regalar-se no banquete, nos termos em que Carlos Alberto Nunes traduziu o momento da confraternização sagrada: “todos as mãos estendiam tentando alcançar as viandas”. Não li de enfiada, confesso. Um livro como esse é um companheiro de muitos anos. A gente mergulha, sai, respira, sente saudade e volta para nova imersão, exercício ou banho rápido. Outras vezes apenas para bu

Postagens da Campanha -Primeiro Turno-

  15 de agosto A campanha começa oficialmente amanhã O serviço prestado aos brasileiros pelo bolsonarismo nos último quatro anos é imenso. Unir ignorância e agressividade ao liberalismo provocou desastres em várias esferas. Na institucional, ameaçando a democracia e o equilíbrio dos poderes, na ambiental, desmatando florestas e invadindo reservas, na sanitária, a gestão terraplanista da pandemia, na econômica, incapaz de implantar uma rede básica de proteção para os 35 milhões de miseráveis, na administrativa, comprando o impeachment do Centrão, na segurança, armando as milícias, na educação, reduzindo o orçamento -que já é ridículo- e implodindo as especializações. Poderia seguir indefinidamente... A preguiçosa corrupção dos tempos do Império, lenta, metastática, feita da praia em Angra. E a central, kubitschekiana, com o orçamento secreto. Sim, é enorme o serviço prestado pelo bolsonarismo. Desde a maxidesvalorização do cruzeiro que quebrou a indústria nacional em 1983 não tínhamos u

Orelha de "Oriente", por José Francisco Botelho

    A grande poesia é aquela que se mostra capaz de nos arrancar de nós mesmos, enquanto, simultaneamente, nos entranha naquilo que somos. Na vertiginosa proximidade ou na inconcebível distância —distância de mares, de terras, de séculos, de almas — esse paradoxo se revela de forma mais nítida. Por isso, a poesia do mundo é a senhora do tempo. Vejam bem: não digo que ela seja atemporal; ela existe no tempo, porém o cavalga, ou o navega, ou transita por ele, a jusante e a montante, como as ondinas da fábula. E é por isso que um grande poema escrito há três mil anos pode chegar até nós com a sinuosidade do instante presente, com o mistério das sensações e dos silêncios do corpo. Mas, para que surja a fagulha na transição de uma língua a outra, é necessário que o poema real seja traduzido por um real poeta. É então que a mágica acontece: de artífice a artífice, de criação a criação, o jogo de tempo e poesia se reacende e, nesse movimento, nos reconhecemos no longínquo e nos reecontramos

Postagens sobre Cuba

  13 de julho I A Comissão Executiva Nacional do PT soltou ontem nota de apoio ao governo cubano, responsabilizando o embargo dos EUA pela crise pandêmica na ilha. II Que o embargo seja um instrumento de pressão política condenável não há discussão. Especialmente porque atinge diretamente a população. Os países submetidos a embargos comerciais por parte dos EUA são: Bielorrússia, Burundi, Congo, Crimeia (Ucrânia), Coreia do Norte, Cuba, Irã, Iêmen, Líbano, Líbia, República Centro-Africana, Rússia, Síria, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Venezuela, Zimbábue e Balcãs Ocidentais. O embargo a Cuba é o mais antigo e já foi condenado pela ONU em mais de uma ocasião, apesar de o Porto de Muriel, pago pela Dilma, estar em pleno funcionamento. Por outro lado, de acordo com o Humans Rights Watch, a República Socialista Marxista-leninista Unitária de Cuba (sim, marxista-leninista unitária, meu deus) continua a punir a dissidência. O número de detenções arbitrárias e de curta duração de defensores

De Vera Ione Molina Silva, sobre À espera de um igual.

  A escritora Vera Ione Molina. Resenha-conto sem teoria, sem linguagem acadêmica, escrita com vivência e paixão Acordou de madrugada e decidiu não emendar um sono em outro de forma artificial. Queria o natural, o concreto, o concretismo, coisas que não a fizessem ficar lidando com significados e abstrações. Não gostava de luz acesa na madrugada, mas foi até a sala e apanhou um livro que estava no fim da fila dos livros enviados por amigos ou comprados em lançamentos. Tinha três livros daquele autor e nunca esquecera as imagens cruas e os sons da natureza que escutou durante a leitura. Havia um cordeiro entre girassóis, os olhos fixos no céu e o chão a girar sob ele? Um touro cego que costeava uma cerca de pedra até sentir o frescor de água doce que coleia os , ésses do ar? A leitora sabia o que era “colear”, era quando o gado era tocado pelos peões e alguns animais andavam tão encostados uns aos outros que as colas se misturavam. E muita onda no pasto, e espirais nos ciprestes? Esse e

Postagens em tempos de peste VII. Abril 2021

  3 de abril Um par de contradições Os bolsonaristas acusam o STF de parcial e politizado à esquerda. Esquecem que por um voto a mesma casa caçou os direitos políticos de Lula e determinou a eleição de 2018. A baixíssima média de contaminação no Exército e nas famílias dos militares revela que as medidas de prevenção tomadas para a caserna não são as mesmas implementas pelo General Pazzuelo como Ministro da Saúde para o país. As Forças Armadas comemoram em Nota Oficial a data de 31 de março como o aniversário do “sic” "Movimento" em defesa da democracia são as mesmas que caçaram o direito ao voto, incendiaram (a UNE, lembram?), perseguiram, mataram e exilaram brasileiros. São tão democráticas, as FA, que quando Bolsonaro sobrevoou as manifestações contra o STF em um helicóptero do Exército tinha do seu lado o General e então Ministro da Defesa, Azevedo e Silva, o mesmo que ao demitir-se escreveu ter preservado as FA como instituições do Estado. Assunto não falta. São mais que