"... visto que te associas à essência, e não às palavras, não te verás influído pelas palavras dos outros, senão pela essência de quem encontras. Assim, percebes nas pessoas capas transparentes que a tua sensibilidade pessoal traduz. A dificuldade com esse tipo de identificação externa radica em que nunca te sentirás seguro de ti mesmo. Não saberás quem és. Tua identidade mudará a cada momento. Ao alinhares tua identidade com a dos demais, é possível que te sintas momentaneamente como se te encontrasses incluído no espaço vital dos outros. Mas a cada vez que o fizeres, perderás teu centro. Ao te lançares em uma cruzada depois de outra, tentas estabelecer um sentido de valor eterno (o sentido da poesia, thomaz). Percebes constantemente a solidão exterior. Se permites que tua identidade se difunda fora de ti, confundirás inconscientemente essa solidão como uma de tuas características pessoais. É possível que, desde essa visão descentrada da vida, desenvolvas sentimentos de rejeição, perseguição e paranóia. Te sacrificarás a fim de obter o amor que necessitas. Mas teus sacrifícios rara vez darão os resultados que esperas. Dado que és emocionalmente suscetível, e possuis um umbral delicado que permite que te atinjam com facilidade, é provável que dirijas a negatividade que percebas no exterior contra ti mesmo, chegando a grande extremos para negar o teu próprio valor. Arriscas levar uma vida de profecias negativas que se cumprem a si mesmas, ao mesmo tempo em que os sonhos dos demais fluem através de ti enquanto observas impotente como em ti se desvanecem. Entretanto, cada vez que te liberes de algo, mais te aproximarás da tua consciência inata. É desprendendo-te que aprenderás a fazer sem fazer. Aprenderás também a trabalhar sem te vinculares ao que crias (este furo na água). E aprenderás a ser sem te atribuires o mérito de ser. Quanto mais te dissolvas, melhor entenderás o sutil ponto da falta de sentido.
De Mar Becker sei que nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e que é gêmea de Marieli Becker. Sua mãe, Meiri, costurava em casa e sua avó, Maria Manoela, foi vítima de uma tragédia não revelada às netas crianças. Que estudou filosofia e hoje mora em São Paulo, na reserva de Guarapiranga, com Domênico, seu marido. Sei que é leitora voraz, que tem bom gosto poético e que é culta, que gosta de cavalos, cães, gatos, Zitarrosa, de música nativista e de Glen Gould. Que toca violão e canta, gauchinha, com voz meiga, quase infantil. Sei outras coisas que, como estas, importam pouco, são letra fria diante do que ela escreve e da forma como escreve os poemas de "A mulher submersa", seu livro de estreia publicado pela editora Urutau. A primeira impressão de leitura é de que esses poemas foram impelidos por instinto de urgente sobrevivência. Apesar da urgência, há neles lenta maturação e extremo refinamento. A leitura nos deixa quietos, maravilhados muitas vezes, enternecidos e ...
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