Banco traseiro de um modelo anos 50, um Buik espaçoso. Estofado de couro verde garrafa. O menino púbere, a Mona Lisa septuagenária e a anoréxica adolescente de seios duros, caídos em cuia no tecido branco de sua bata manchada pela nata de colostro. A câmera vai do ombro do motorista, ao para-brisa de vidro grosso, e deste à cadeira de bebê jogada no assoalho do banco da frente. O carro balança como se navegasse. Sulca o calor do deserto com um rastro de poeira terracota, vista em aérea. Já foi feito o que era para ser feito. A venda. Eles retornam disso. Suando, o menino fecha a janela. A velha lhe arregaça a bata amassada, a unha suja subindo pela virilha. Apoia a cabeça em seu colo soltando o coque grisalho. A barra de sol na ponta dos seus cabelos brancos e ressecados ilumina as miríades de pó. O menino consente. Observa sua ereção como se não lhe pertencesse. Escanchada na largura do banco, o viso puído acima dos joelhos, a jovem mãe acomoda-se entre as pernas da velha. Tufo espesso de pentelhos brancos. Desponta o grelho vermelho da velha, descomunal na ponta da língua da adolescente, como aquela foto com o morango. A velha cheira o escroto imberbe e, sugando o próprio o céu da boca retira a dentadura como se fosse um bagaço de laranja (uma tatuagem de arabescos anela os dedos e renda todo o dorso da mão). Depois suspira. Recebe a rala ejaculação. Um jogo de futebol, em árabe, no rádio do carro. Do motorista tudo se ignora, exceto a ponta do cigarro sobre a borda da camiseta de física, a ponta dura e parda da clavícula.
Croquis, autorretrato, Menos que um , J. Brodsky, Rio de Janeiro, 1992.
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