Pular para o conteúdo principal

Postagens em tempo de peste VI. Março 2021




18 de março

O poder do vírus

De certa forma, em uma inversão desoladora, a pandemia combate o fascismo no Brasil.


19 de março

O vilão
I
Os ingleses e os americanos acabaram com os índios da América (que antes guerreavam entre si), os espanhóis e os portugueses catequizaram torturando, os escravos africanos eram senhores de escravos na África.
Generalizo...
O século XX matou mais que qualquer outro século da humanidade, campos de concentração, gulags, holodomor (a grande fome), expurgos maoistas, armênios dizimados, genocídio curdo, em Ruanda, na Etiópia, no Líbano e na Palestina...
Hiroshima. Tibet.
Sabemos que a lista é interminável. Não é Bernabé? Ay Bernabé, Bernabé...
Ao que vou? Não é Rivera, Pol Pot, Fidel, Bush, Videla, Médici, Ceausescu, Stalin, Leopoldo III, Mussolini... Ou Bolsonaro.
Não são as ideologias. O capitalismo, o comunismo, o socialismo, o anarquismo, mas o conhecimento contra a ignorância.
Não são os países, as fronteiras, os nacionalismos, as raças, os sexos, a genética, os deuses e as religiões. É o homem.
O vilão é o homem. O homem escuro, o fanático, primitivo.
II
Algumas perguntas para abrir meu voto
Não sei porque Lula foi preso. Se deveria ser julgado em DF porque Facchin esperou tanto tempo?
Se os grampos da Intercept são ilegais, como podem ser argumento contra o abuso judicial?
Se a República de Curitiba utilizou o Poder Judiciário e a PF para criar um Estado repressor paralelo, porque não há punição para os criminosos? Refiro-me a César Moro, Dellagnol et caterva. (Para quem não sabe latim quer dizer, "e os comparsas".)
Agora, isto abole o rapto do Estado cometido pelo PT desde o Mensalão? Isto inocenta corruptos políticos e corruptores do empresariado? Isto explica porque o PSDB não foi atingido e Aécio segue escondido atrás do seu forunzinho privilegiado de deputado?
E o Impeachment? Valeu a pena? Interromper um mandato desastroso através de um argumento pífio, falso (as pedaladas), hipotecando a democracia para pôr o Estado na mão do fisiologismo de Temer, valeu a pena?
Dois anos assistindo o ódio ter porta-voz no Palácio da Alvorada. Dois anos sentindo que o mundo perdeu o contato com a razão.
Então o Lula volta e discursa.
Tudo o que ele disse (ou quase tudo, fora as mentiras e exageros de praxe) traz valores solidários, humanos, coerentes. Chegamos a esquecer o quanto de responsabilidade ele tem no processo. O quanto as decisões de Lula nos trouxeram até aqui.
Esquecemos e pensamos: Voto nele de olhos fechados contra o boçal esse aí.


25 de março

I
White Power
O que nos leva obrigatoriamente à oposição ao Bolsonaro, não é apenas a sua já comprovada inépcia funcional como presidente.
O que nos obriga é a mentalidade que ele arrasta. Porque o Bolsonaro vai passar. Já o fascismo e o udenismo são seculares.
O gesto do assessor internacional da Presidência da República em uma reunião no Senado ontem, não é de "vai-tomá-no..." Os três dedos significam W, de white e o 0 significa o círculo do P, de power. "Poder Branco". O rapaz é afilhado político do ex-candidato a embaixador brasileiro nos EUA, Eduardo Bolsonaro, o 03.
Aqueles que seguem respaldando o bolsonarismo devem entender que respaldam o racismo no seu grau mais primitivo.
É preciso compreender o que significa para um país como o Brasil, ter uma família de Supremacistas Brancos, subservientes à pior linhagem de nazistas americanos, no Palácio da Alvorada.
E eles estão lá com o apoio de vocês.
p.s. O nome do rapaz é Filipe Martins, vai cair. Ernesto Araújo, será o próximo. O 03 fica lá.

II
Bala por vacina
E vou seguir polemizando o bolsonarismo.
Prefeito de Bagé, que elogia o governo federal pelo investimento na barragem construída no município, nega-se a seguir orientação do governo Estadual e vacinar a população carcerária.
Conforme o bageense, bandido só receberá a imunização depois de toda a população de bem. A mentalidade, vejam. Bandido, gente de bem... Brasil acima de tudo, Deus acima de todos...
Que o sentido da cadeia no Brasil está muito distante da reintegração social todos sabemos, mas daí a ignorar que em um sistema fechado o risco de contágio é enorme e fazer política com isso, é um comportamento assustador.
Agravado pelo chamado aos demais prefeitos a seguirem o seu exemplo.
Ou me engano? Talvez fosse melhor o paredão de fuzilamento. Bala por vacina.


26 de março

Ponderando com bolsonaristas.
Bundão, burguês, comuna, petista, poeta, artista. Todos com a conotação do primeiro epíteto. E demagogo.
Isso foi ontem. Os elogios partiram de amigos.
Mas, qual a razão para agredir? Se eu nunca fui o assunto da postagem.
O que faz as pessoas preferirem a versão à realidade? Eles - os meus amigos - não são supremacistas brancos nem matariam pessoas em um presídio só porque estão presas.
O que faz então que não vejam?
O mesmo ocorre com o Lula. Que o Moro tenha abusado de poder não quer dizer que não houve corrupção em seu governo.
O que faz com que os políticos sejam mais reais que os fatos?
O grande poder da polarização é a eficácia da cegueira.
O populismo, neste grau intenso, nos impede entender que os problemas do Brasil são práticos e um mínimo de bom senso, hoje, vale mais que qualquer ideologia.


30 de março

I
Sobre nosso futuro.
Dadas as circunstâncias, é ponto passivo que Jair Bolsonaro está fora do nosso melhor futuro. Quero dizer, ninguém hoje com um mínimo de isenção discordaria que nosso próximo governo deva diferir do atual.
Do atual e dos anteriores.
Porém, a experiência da direita no poder serve para mostrar aos moderados o que significa votar em uma plataforma política que triplica o orçamento da Defesa e reduz o da Saúde e da Educação.
Não vou falar na exploração primitiva das reservas naturais, da discriminação das minorias, da corrida armamentista da população civil, dos discursos de ódio e da imposição dos valores do branco, cristão, europeu sobre a diversidade social e religiosa brasileira.
É evidente que o nosso conservador não se contenta em "conservar o que deu certo". O nosso conservador é contra tudo que representa mudança. Ele é, antes, um retrógrado.
A preocupação é com o futuro. Em como a esquerda se organizaria para evitar os graves desvios e distorções do passado recente e ser capaz de, pelo menos, retornar como oposição. Já que a oposição hoje está na mão do fisiologismo do Centrão.
Pensamos que nossa tragédia é Jair Bolsonaro. Não é. No fundo desse poço está uma esquerda que não se revê. Muitas vezes parece dar a impressão de que optou por refugiar-se no bolchevismo mais esclerosado.
O fato é que nos deixa órfãos com o nosso humanismo. Nós e esta nossa compaixão aberta, esta ternura sem objeto.

II
Heil Mein Duce!
Major Vitor Hugo está tentando me convocar, eu, civil, brasileiro, capaz, para servir na tropa do Bolsonaro? Vou comprar gravata e camisa pretas.
Com recrutas como eu, armados pelos bolsonaristas, no meio dos bolsonaristas, não daria muito certo.
Como eu, de metralhadora, ia emplacar minha política da gentileza?
Mobilização Nacional, todos os bens e serviços privados e coletivos na mão do Bolsonaro. É isso?
Polícias Civil e Militar a mando do Presidente?
Mas ao que vai?
Vai a ser autorizado pelo Congresso Nacional para acabar com a democracia, com a autonomia dos Estados e dos Municípios.
Não, não, não. Nada disso. É só cortina de fumaça.
Não falemos na pessoa que morre a cada 8 minutos de Covid no Brasil.
E, nem, claro, no que diz a Folha em garrafais:
Atrito com Bolsonaro derruba comandantes das Forças Armadas, na maior crise militar desde 1977.


31 de março

I
Golpe de Estado
Minha mãe costuma contar que quando ouviu na estação do rádio a notícia do golpe de Estado eu estava no peito. E que eu costumava mamar como um afogado que bebe água para respirar. Acredito, devo ter mudado pouco.
Generalizando, como já é de costume, vínhamos do suicídio de um ditador, da construção faraônica de uma capital no meio do nada, da renúncia de um palhaço pernóstico e da eleição de um homem vaidoso de temperamento fraco que teve, na época, menos votos que seu vice. Café Filho mal vale a citação.
Generalizo e mal comparo. Jango estaria para Vargas como Dilma para Lula, Temer para Café Filho e Bolsonaro para Jânio Quadros, com a ressalva que este lunático não conspirou contra a democracia.
Desde Bonifácio, o tempo no Brasil é circular.
A nota comemorativa do Ministro da Defesa chama a ditadura de "Movimento de 31 de março de 1964". Ouvir hoje, de um General, que as Forças Armadas defenderam a democracia por duas décadas é sinal de tempos em que as narrativas substituem os fatos.
Tempos de contar mentiras sabendo que não são verdades. Bom, pelo menos eu penso dizer a verdade quando digo a verdade.

II
Eduardo e Paulo na CEEE e na CORSAN
para o Zeca
Vamos dar um descanso aos bolsonaristas e atacar o liberalismo por algumas frases.
Eduardo Leite está em vias de leiloar a CORSAN e terceirizar o saneamento básico. Bom, faz parte do livre mercado a expectativa de que a concorrência melhora prestação de serviço.
Mas quem compra?
A interessada é a Equatorial Energia que acaba de arrematar a CEEE (salto de +8,4% nas ações) em lance único de 100 mil reais. Sim, cenzinho mais a dívida bilionária (a ser acomodada pelo Estado, quase 2 bi em 15 anos de ICMS).
A Equatorial é objeto do terceiro maior investimento da Bozano.
Bozano?
Sim, a Bozano, é uma gestora de recursos sediada no Leblon que tem entre seus acionistas a americana BlackRock, maior gestora de investimentos do mundo, e o Fundo Soberano de Cingapura.
Três dias depois da vitória de Bolsonaro, seu Presidente ainda era o economista Paulo Guedes.
Para mais sobre o tema ler em:

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mar Becker

  De Mar Becker sei que nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e que é gêmea de Marieli Becker. Sua mãe, Meiri, costurava em casa e sua avó, Maria Manoela, foi vítima de uma tragédia não revelada às netas crianças. Que estudou filosofia e hoje mora em São Paulo, na reserva de Guarapiranga, com Domênico, seu marido. Sei que é leitora voraz, que tem bom gosto poético e que é culta, que gosta de cavalos, cães, gatos, Zitarrosa, de música nativista e de Glen Gould. Que toca violão e canta, gauchinha, com voz meiga, quase infantil. Sei outras coisas que, como estas, importam pouco, são letra fria diante do que ela escreve e da forma como escreve os poemas de "A mulher submersa", seu livro de estreia publicado pela editora Urutau.  A primeira impressão de leitura é de que esses poemas foram impelidos por instinto de urgente sobrevivência. Apesar da urgência, há neles lenta maturação e extremo refinamento. A leitura nos deixa quietos, maravilhados muitas vezes, enternecidos e

Os 300 apelidos do golfe no Campestre

Renatinho "Calengo" das Trevas Chupa Limão, Bico de luz, Canela de Facão, Sebinho, 500. O Chama Chuva, Vanusa, Panteão (Naba e Olho de Gato), Cocota, Chulé, o Sujeira. E o Banho. Porquinho, Rabicó, Poleta, Xereta, Careta, Galo Cinza que é também Chubrega e Marsupa. Nenê, Fio, Bacalhau, Ferrugem, Cofrinho e o Tevez. O Substância, mais o Bichinho. Caldinho, Surdo, Baixinho, o Cavalo, o Cavalinho e o Minihórse. O Mutuca, são três. O Randicape, o Pateta, o Pibe, o Kika, o Cambão, o Pintinho, o Bixiga, o Toro, o Papitolante e os Vaqueiros. Castorzinho, o Pistola. Junta o Candanga mais o Canguru. Negão, Cobra, Maneca, o pai, e Manequinha, o filho. E o Bajuba. Mais o Cachorro de 10, Tropeiro de Tartaruga, Juruna (mais conhecido como o Godzila sem dente). E o Pepe, Cona, Marzinho, Biscoito, Renatinho Calengo (de sobrenome das Luz das Treva), também conhecido Mãozinha. Pedra, Pichão de Cuervo, Tunico, Alfe, Reuler (vem do Herbie do "Se meu fusca falass

"Exílio. O poema quântico". por Juva Batella

Os poemas que compõem o grande poema que se lê em Exílio não são narrativos; funcionam, antes, como fragmentos, e não como etapas ou camadas. A poesia de Thomaz Albornoz Neves não é, portanto, do tipo retórica ou esparramada, e compõe-se num espaço textual tão conciso, que o leitor — não tendo para onde fazer correrem os olhos — deve permanecer onde está, com o olhar virado para si e tentando, dentro de si, encontrar, neste espaço privado, uma equivalência pessoal para o jogo de espelhos de outro espaço privado: o espaço do poeta, ou, antes, do olhar do poeta sobre o mundo, sobre o seu fazer poético e ainda sobre o seu próprio olhar acerca deste fazer. A poesia de Thomaz Albornoz Neves não é fácil de se ler às pressas. Lendo-a às pressas, ela nos escapa. Ler poesia, em geral, não é fácil. É, antes, um movimento que caminha contrário à automatização que se ganha com o tempo e com os tempos dedicados à leitura de prosa — este correr de olhos em que saltamos de uma palavra à outra, rec