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Postagens em tempos de peste IV. 29 de maio - 25 de junho




29 de maio
Olhar para o lado.

João Pedro, 14 anos, morreu dentro de casa baleado por rajadas de fuzil disparadas pela Polícia na semana passada. Da cena, temos imagens das rajadas nas paredes, mas ninguém viu o menino enquanto morria, seu olhar sem saber porquê.

Hoje, assistimos um policial racista sufocar com o joelho um homem algemado e deitado no chão. Ouvimos a súplica por respirar, nos horrorizamos. A João Pedro nem isso.

Imediatamente, Trump ameaçou coibir com a guarda nacional a revolta que o assassinato televisado provocou. Trump, como Witzel, responde à violência com mais violência. Para eles, inocentes são danos colaterais.

O fato é que aqui tudo parece que não é. O brasileiro não se revolta. O brasileiro aceita. Nossa cultura é olhar para o lado. Não sabemos quantos estão morrendo agora exatamente como aquele pobre homem, só que no lugar do joelho de um policial, a asfixia é por falta de respiradouros.

Diante do dinheiro para hospitais desviado no meio de uma pandemia, diante de um sistema que permite que mafiosos tomem de assalto o Estado, eu pergunto como defender a democracia?

Contra a resposta, devolvo a pergunta:

Como atacar a democracia se a opção contra a corrupção é me unir à mentalidade que sufoca com o joelho um homem algemado diante das câmeras, que mata crianças dentro de casa?

Com democracia, o roubo. Sem democracia, opressão.

O brasileiro olha para o lado.


31 de maio
Da revolta pacífica

As crises são, diz o lugar comum, o encontro entre o que se transforma e o que resiste ser transformado.

Os jovens revoltados contra o racismo são as forças de frente contra valores esgotados, só vivos ainda entre os conservadores. O poder das coisas sobre o espírito, do mais forte sobre o mais fraco, do mundo como lenha para carvão.

E a história demonstra, como bem ensinam os próprios teóricos conservadores, que os costumes de convivência preservados pela sociedade são aqueles que tendem ao benefício de todos. Os que, no final das contas, refletem o coração do homem: a igualdade, a fraternidade e a liberdade, por exemplo.

São valores que já estavam nos escritos de Santo Agostinho, no séc. IV, e que foram citados por La Boétie, amigo de Montaigne, no séc XVI, antes de virarem o slogan tardio da Revolução Francesa, no séc. XVIII.

Evito outras máximas óbvias para permancer em terreno laico. Pois bem, estamos no séc. XXI., 1700 anos de cultura é o que os jovens levam na mochila enquanto protestam nos EUA.

Não são comunistas, não são terroristas, não querem demolir "tudo o que está aí". Querem igualdade, fraternidade... o que nasce do homem livre. E são, apesar do noticiário vendendo a violência episódica como manchete geral, pacíficos.

É a beleza do movimento reativo e espontâneo. Antes da bandeira se apossar da multidão.


1 de junho
Teu trabalho, diante da escassez de recursos da tua secretaria, feito com um celular e uma secretária, foi profissional, enérgico e incansável. Ninguém pode negar a importância da tua atuação e o comprometimento com a tarefa que te foi dada. Não procuraste a evidência, foste fiel aos teus princípios e estiveste do lado de quem confiou em ti numa situação difícil, em uma realidade que fugia do teu controle. Perseveraste. Gostaria muito que a cidade pudesse contar na Câmara dos Vereadores com alguém com as tuas qualidades e me coloco à tua disposição para ajudar na tua campanha. Como é bom escrever estas palavras para um amigo de toda a vida. Te desejo muito sucesso, não só por ti, mas pelo bem da nossa terra.


2 de junho
Contra Lula, a favor da despolarização

Nós não somos 70%, somos menos. Esse percentual inclui o maior líder da oposição que considerou-se fora da maioria contrária a Bolsonaro. Prefere ser contrário sozinho.

A sociedade civil está em tímido movimento. Hesita. Diversas ações surgiram, abaixo-assinados, mobilização nas redes, a mídia manipuladora criando passeatas maiores do que foram, enfim, dando tapa furado. Nada tão pequeno que Lula não possa diminuir.

Ao declarar que FHC e Temer não são democratas e que ele não é Maria-vai-com-as-outras, Lula não mente. São verdades, Lula só admite ir, se vai na frente e FHC e Temer não são democratas. Um conspirou loteando a obsoleta máquina do Estado para reeleger-se e o outro conspirou para depor sua própria Presidente. Ambos vendendo e o Congresso comprando.

Que o petista tenha também comprado sua coalizão com mesadas pagas com o dinheiro público não o diferencia dos demais. Só o torna, na situação atual, mais hipócrita.

(O que se tornou a gestão pública, senão a naturalização da hipocrisia? As fake news nada mais são que a mesma mentira em outra escala.)

Sabemos que a sobrevivência de Lula é tentar fazer do PT a opção para Bolsonaro. Cui bono? Somente a Bolsonaro. O presente é feito dessa decisão tomada na cadeia por Lula em 2018. De casa, ele nos ameaça com o mesmo em 2022. Vejam, esta é a lógica da polarização. Um só dá o outro como saída para o nosso voto.

Nem mesmo a ameaça à democracia que enfrentamos hoje demove Lula do seu papel. Marcando a divisão, ele mina a união nacional contra o fascismo. Olhem os polos populistas, como são iguais em mitomania.

A mobilização em defesa da legalidade democrática precisa crescer. Mais que nunca, em quarentena, palavras são atos. Um Brasil sem Lula e sem Bolsonaro pode ter mais chance de discutir o que interessa: as reformas estruturais do sistema representativo, judicial e tributário.

E, quem sabe, viver mais com menos conflito.


3 de junho
Melhor com a conta clara
Pelas repercussões em relação ao "somos 70%" ou ao tal do "Juntos" viu-se que estamos entre duas pontas corroídos pelo meio. Numa ponta o bolsonarismo, na outra o lulismo e no meio do meio um pessoal amorfo e indiferente bem representado no Congresso pelo baixo clero e os aliados do Maia, o Centrão.
Nós, os moderados, somos provavelmente a maioria turva que flutua entre os polos pontilhada por esses detritos. Quem nos representa?
Somos quem abriu mão da ideologia e pôs os problemas mais urgentes, de natureza prática, na pauta da discussão. Quem enfrenta essa energia ativa e escura que é o fascismo de direita (sinto discordar do Guerin, existe fascismo de esquerda, na Venezuela por exemplo), e essa outra energia parada, ressentida, que é o lulismo pré-senil, o petismo decadente.
De resto, somos obrigados a ler o Requião dizendo que a tal da conversa pró-democracia é coisa da Globo e dos financiadores da direita quando seria generoso, senão obrigatório, dar um passo ao lado, deixar em um segundo plano os interesses partidários, e fortalecer um movimento de defesa do direito de ter voz.
Senão, me digam, que partido existe sem democracia?


13 de junho
Covid por perfume.
Se olharmos com atenção ao que acontece, a ameaça de contágio em que nos modificou? A ilusão de onipotência dos mais fortes e a indiferença com os mais fracos são as mesmas de sempre.
Contas feitas mês passado, o comércio foi aberto e a vida retomada. Mas mais de mil morrem de vírus por dia para que outros tantos mil não morram de miséria.
Vivemos as últimas semanas fingindo que um tapa-boca é atestado de civilidade. Que é normal viver como se nada mostrando para quem sabe menos que não tem problema, não é conosco, vai passar.
Agora, depois de amanhã, um decreto igual ao que abriu tudo fecha tudo de novo. Qual é a lógica? Fecha porquê? Fecha porque abriu, ora.
Quem presencia Rivera tomada por turistas se pergunta: o que compram? Quem são essas pessoas que fazem turismo de consumo em um momento como este? Trazem covid e levam perfume.
No Parque Internacional filas de automóveis se formaram para que os pneus fossem desinfetados pelos uruguaios enquanto uma quadra acima e em outra quadra abaixo a fronteira vazava, circulando aberta como sempre.
Pneus borrifados, imaginem... Un momento, es solo un chorro, bién, pase señor...Siguiente.
Para que tanta hipocrisia? Assumamos nossos valores. Que morra quem tem que morrer. Não fechemos nada. Ou os supermercados vão seguir lucrando sozinhos, ganhando demais sozinhos. Não é justo.
É?


14 de junho
In vino veritas

A quarentena tem coisas. Ontem sábado cedo da noite, fomos, eu de porta-gelo e uísque, passear numa Sarandi vazia, com ares de anos 70. A família queria ir ao Mc'Queen. Meia garrafa depois chego em casa e escrevo "Covid por perfume". Um comentário meio atropelado que tento explorar a seguir.

É rara a oportunidade de vivermos um passado tão acorrentado no presente como este recente, de março até agora. Vocês sabem, no caos da nossa sociedade pós-moderna muitos dos elos da causa e do efeito se desacorrentam. E as consequências se manifestam soltas, por rebote ou eco, longe dos seus motivos.

Sigo sendo da opinião que a abertura era inevitável. Mas a forma como foi feita aqui - decidida quinta e realizada segunda, imediata, sem fiscalização, delegando à consciência do cidadão o combate último ao contágio, lembram? - está firmemente encadeada com a realidade atual. Porque o vírus só alcança o outro se quem o carrega se move.

Quando são forçadas a parar as pessoas se aceleram, notaram?

Ok. Se não for hipocrisia, borrifar pneus em uma única esquina da linha divisória numa véspera de feriado, se for, digamos, propaganda, ou medida de conscientização, ela é inócua. Cheira a politicagem, a matéria de divulgação, ou simplesmente a falta de imaginação sobre o que fazer.

Tudo isto é controverso. Suscita opiniões divergentes, cada qual com a sua incerteza. O que não é discutível, o que é fato comprovado, são os valores que determinam nosso comportamento em sociedade.

Como eu disse meio tocado da razão que o álcool dá, "a ilusão de onipotência do forte e a indiferença com o fraco" (uma frase de péssimo gosto, diga-se de passagem) são atitudes individuais, elos que se unem em correntes modelando o grupo pelo exemplo.

E são os nossos valores que determinam as decisões.


15 de junho
A época dourada da poesia no Uruguai

Fui a Montevidéu convidado pelo formidável poeta e artista plástico Gustavo Wojciechowski, o Maca, criador da editora Yauguru, para participar do Mundial Poetico em março, antes da epidemia. Mas mais que apresentar nosso livro, foi o festival quem me apresentou inúmeros poetas de fina sensibilidade. A tal ponto que sou levado a acreditar estarmos em uma época dourada da poesia uruguaia contemporânea. Época de consagrados autores com uma obra já estabelecida como Alfredo Fressia, Rafael Courtoisie, Hugo Mujica e Luis Bravo e as altas poetas Idea Vilariño, Peri Rossi e Circe Maia. Mas também de obras em processo, vozes plurais que, por mais diversas entre si, compartilham um mesmo humanismo solidário e um comprometimento com as questões sociais que não abre mão da exploração existencial. Uma poesia profundamente individual mas solidária, cívica e comovente porque reflete o melhor que existe na identidade oriental. Entre estes, Elbio Chitaro, poeta visceral, natural de Durazno, enviou-me os livros que seguro na foto. São eles: "Idealidad de cántaro", palavras impressas na medula ao som de Waters e Gilmour, "La impureza", versos de quando quis converter a linguagem em "uma bela mentira", e "aguantaraz" com ilustrações de Fernando Stevenazzi, um trabalho de revolta e desolação, de quem quer paz preparado para a guerra. Como não podia ser diferente, todos os três desenhados por Maca para Yauguru. Abaixo, reproduzo sem permissão um poema que ainda é work in progress (lhe falta, segundo Elbio, um terço). Talvez justamente por ser um fragmento em gestação, incabado e de amplidão geracional, que sirva de amostra para o dito acima sobre a emergente leva de poetas uruguaios contemporâneos cujo vigor estes versos tão bem representam. En viaje a la esperanza En viaje a la esperanza no logramos almacenar recuerdos en ausencia de esperanza. Tampoco los pensamientos del recuerdo. “Ausencia de esperanza”, perro cimarrón a punto de masticar la luna. Estamos enfocados en lo que vendrá, más allá de los sueños y la muerte. De las uvas silvestres entre parvas piedras de alabastro. Respiramos un aire envasado a presión, compartido con el resto de los pasajeros del recuerdo. El aire rebota como una pelota de goma en un muro anfractuoso, de cabeza en cabeza, de alma en alma. Vibra de repente, como tren manufacturado con el mismo metal de los rieles. (Nombro trenes, rieles en el campo, yuyos bajo los durmientes, pienso en ellos y recuerdo con tristeza a los poetas). Estoy pensando en alguna onomatopeya que pudiera hacer con la boca. Estoy pensando también en silencios de ruan oscuro que pueden enloquecer a cualquiera. El silencio importa a la hora del viaje que debemos realizar. Nadie espera que suceda algo; nadie espera, nada sucede. Sólo vemos a escasas pulgadas la nuca del vecino, la fragilidad de sus siete vértebras cervicales, los pocos cabellos lacios adheridos al cuero cabelludo. Gordas gotas de sudor se deslizan colina abajo hacia los hombros. El cansancio de todos se deposita en diversas capas yuxtapuestas de la noche, cuando debimos descansar. El niño camina como un pato viejo. Tiene piojos blancos en sus motas, que uno percibe como una multitudinaria carrera en el hipódromo. Tiene sueño, vive con un sueño que lo opaca y detiene. Es el niño que no fuimos. Pero pudimos haber sido tan sólo si hubiéramos crecido sin ternura. El niño, con picardía, espera que caigamos de bruces en un charco maloliente; y reír, con una mezcla de carcajadas y gemidos. Donde hay deshechos de animal, jeringas y hongos ferrugientos. El niño-pato no hace el viaje con nosotros, porque alguien le hizo pagar los viajes antes de nacer; porque tampoco queremos que él nos acompañe. El viaje, la fuga hacia un poco de esperanza u otra sensación sin nombre. Donde no somos nada sino nos ayuda el cazador. Las luces de mercurio parpadean, atrapando la atención de nuestros ojos perdidosos. Nada se acerca ni remotamente a la perfección. Más bien, la vida es imposible de perfeccionar desde esta estación olvidada. Se llama procrastinación o mal de Penélope en Ítaca. Sin embargo, escribo sobre ello mientras puedo. Sobre los paisajes de una futura perfección. Sobre un viaje hacia una superficie sin grietas. No al cielo, no a la tierra, sino hacia una pradera infinita acariciada por la brisa No quiero hablar de Dios. ¿Qué sentido tiene juntar las manos, cerrar los ojos, respirar profundamente y murmurar palabras agobiadas? El aire sigue con una espesura difícil de consagrar para invadir los pulmones. El niño-pato no tiene Dios: viene y va, por la misma senda, el mismo paso entre dos huecos humanos, con los piojos de siempre. Nos mira y queda hundido en alguna realidad primigenia. Pronuncia mi nombre, eso parece, como realizando un llamado gutural y gótico en una catedral. No hablaré de Dios, entonces. Abrazados, camaradas recién salidos del boliche, con unos vasos de grappa con limón, nos preguntamos ¿qué sentido tiene emprender un viaje como una derrota o una victoria pírrica? Recuerdo una foto en blanco y negro cuando éramos jóvenes con futuro achacoso. Recuerdo que me hizo gracia las diferentes poses de cada uno de nosotros. Parecíamos una banda de criminales dispuestos a todo, esperando una señal para consumar la Masacre de San Valentín. Pero Jack tenía coartada, y nosotros quedamos esperando cual idiotas sin las sagradas escrituras. Aquel que nos había guiado se detuvo a desahogarse entre el follaje, sobre un gran arbusto de flores sin aroma. Con pequeñísimos insectos atravesando el dorso de la mano. Se tomó la cabeza, pensó en morir allí, en esa década neobatllista de los cincuenta. El tiempo se detuvo, aún había cadáveres pudriéndose en chatarras después de incendiarse por días y días. El camino era un zigzag incierto, patético. El riesgo era quedarse, perderse, enloquecer. Mientras, esperábamos que el guía culminase a tiempo su consuelo, hablando del misterio que nos envolvía. Finalmente seguimos el camino dibujado en la mente del cazador. Según dijo nuestro guía, la realidad, al menos la que percibíamos en ese momento, cambiaba a cada tramo del camino. Donde ayer había un arbusto, hoy pudiera haber un enorme basural tecnológico. Donde había una canilla lloriqueando, un caballo macilento después de la hecatombe, un perro enfermo. En esa realidad vivían los destinos: el rubio del matadero clandestino, la señora curandera con ramitas de ruda entre los dedos, el señor reparador de primus deslucidos, maestros jubilados, quinteros con olor a tangerina, almaceneros llenos de tristeza, albañiles y aprendices de albañil. El cazador descubre ante nosotros un desfiladero donde se oye correr el torrente del primer túnel. Nos sentimos cansados, pero no por los avatares del viaje, no. Sino porque comienza a pesar lo que hemos vivido, el acabose después de todo. En lo que nos convertiríamos dentro de poco, cuando lo único que desearemos será un buen colchón seco y un plato de sopa caliente. Todo eso pesó en ese instante, nos obligó a realizar el primer alto en el camino. Aun así, la soledad se instaló entre nosotros, oyéndonos toser. No nos preocupaba perecer. Más bien, quedarnos allí, donde perros oscuros surgían de la nada. A pesar de parecer amistosos, no debían estar allí. Olfateaban nuestra ropa, nuestros zapatos empapados, se echaban al costado de cuerpos doloridos. El cansancio era profundo, ni siquiera teníamos fuerza para chasquear la lengua y molestarlos. Los perros acompañaban a pesar. Obrigado pelos presentes, caro Elbio.


p.s. Vera Ione Molina indaga por jovens poetas uruguaias. Regina Ramos, tem um pampa abstrato, uma fusão campeira e urbana que é surpreendente e original.

25 de junho
A vanguarda moderada

I
A formação de uma Frente Ampla pró-democracia esbarra ... em ser ampla.

O "Basta!", o "Somos 70%", o "Estamos juntos" e o da vez "Direitos Já" não conseguem pôr na mesma folha de papel a assinatura dos ex-Presidentes vivos Sarney, FHC, Lula e Temer. A da Dilma e a do Collor não precisa, que rubriquem o pé da página.

Lula, se não for sinuelo, leva de volta o PT aos tempos da Constituinte e não assina. Menos ainda se o Moro assinar. Mas o Moro nem foi convidado, dizem. A leitura é que, por pior que seja a ameaça à democracia, movimentos de união idealizados por políticos separam antes de juntar.

Contra o fascismo, só o povo na rua mesmo.

II
Lya Luft. está sendo queimada em praça pública. A bruxa, que escreve na Veja (imperdoável, escrever para a Veja) arrependeu-se de ter votado em Bolsonaro.

O processo inquisitório foi fulminante. Depois da tortura, a fogueira. Não Thomaz, o anacronismo não remonta à Guerra Fria, mas à Idade Média. A patrulha, contaminada pelo pior ranço purificatório, presta o maior serviço a quem ataca o Partido dos Trabalhadores.

Ou seja, quem for um pentito, de ora em mais será um pentito em silêncio. Ao ressentimento mais ressentimento e a polarização agradece. Depois me contem como atrair votos dos arrependidos agindo como Torquemada. Estratégia maravilhosa, hein PT (Nós sabemos, nós sabemos, é contra-producente, mas apanhamos demais e por muito tempo, a sede por sangue é mais).

Diante de tanta intolerância, a vanguarda hoje no Brasil está no caminho do meio. A revolução, vejam onde chegamos, tornou-se a moderação.

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