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Postagens em tempos de peste II. 27 de março - 26 de abril


                                                   © Nilson de Souza
27 de marçoPor tudo, por ninguém
As ruas estão vazias, a casa em silêncio, a luz apagada
Uns dizem que devemos sair, outros dizem que não
A Prefeita parece discordar do Presidente
Os bombeiros estão pulverizando a cidade
Em Rivera, há serviço comunitário
A maioria das pessoas parece ter bom senso
Ouvi, de boa fonte,
que na família de um colega do meu filho
há quatro pessoas doentes
Mas não fazem parte da estatística
No campo é mais seguro, dizem
Ontem, aos 93 anos,
morreu de causas naturais, o Mandarino
A morte não tem idade
E quando alguém que amamos parte, tampouco importa a causa
Minha mulher foi fazer surtido
Pela primeira vez pensei que tomasse cuidado
O velho Dino, ovelheiro amigo, se foi dormindo de madrugada
Tinha esquecido o duro que é cavar uma cova
quando não chove
Está no fundo do pátio, entre as bananeiras
Um amor sem objeto ocupa o lugar dos sentimentos
Por tudo, por ninguém


30 de marçoUm general na Presidência

A situação está clara. O Ministro da Economia, Guedes, o da Saúde, Mandetta, o da Justiça, Moro, os Presidentes do STF, Senado e Câmara, Toffoli, Alcolumbre e Maia, respectivamente, concordam com o Vice-Presidente da República, Gal. Mourão, a respeito das medidas de isolamento social.

Não há nada eleitoral, politiqueiro, nem uma manobra das esquerdas articuladas, ou dos governadores de partidos diversos contra o líder Jair Messias Bolsonaro. Trump, modelo do Presidente brasileiro, também concorda com o isolamento.

Porquê então Bolsonaro insiste em desafiar o consenso? Qual o sentido de criar ainda mais cizânia agora, neste que é um dos momentos mais críticos já enfrentados em décadas?

Eu não entendo qual a vantagem que a posição do Presidente lhe confere?

Atacar as Instituições, traz benefício a quem? Bem, neste caso, às Instituições, que se fortalecem diante de cada ataque.

Mandetta parece o Brito, quando nos trazia boletins sobre o estado de Tancredo Neves. Já alavancou sua carreira política justamente sobre o comportamento incompreensível do Bolsonaro.

A situação alcança um grau tão grave, para mim pelo menos, que torna o Mourão uma saída plausível. Se um cara como eu, que tem ojeriza de autoritarismo, consegue cogitar um general na Presidência é porque a situação é limite.

Bolsonaro não quer o isolamento social. E está em isolamento individual dentro do próprio governo. É o que o protege, por enquanto.


31 de marçoCartaz

Foi uma ditadura. Houve tortura. A terra é redonda.


1 de abril
E, de repente, este cansaço.

De ser gado. De estar à mercê de um mundo que nunca nos disse respeito. Tocamos a vida, só isso. E pensamos diferente de quem pensa que pode mudar tudo através de um Presidente, uma ideologia, uma religião.

Sem educar.

Que elogiam Cuba, que absolvem os EUA. Que culpam a China e esquecem que o Ocidente inteiro explora o trabalho escravo amarelo. Que discutem as manchetes do dia como se elas fossem de fato. Que distraem o pânico com videos de tragédias em grupos de watts. Que ficam em casa e mandam sair.

O político fazendo campanha com a doença. O oportunista que especula em cima do boato. E a infâme propaganda do doador.

Eu olho o cachorro dormindo pensando no que semana passada morreu. Convivo com bichos. Gatos, um casal de joão de barro, o bem te vi, o pombão, suas três rolinhas. E no infinito do pátio lagartixas, lesmas, caracóis, formigas, baratas, grilos, morcegos, moscas, joaninhas, camotins, fede-fedes, algum rato que sempre aparece vindo da padaria. Com a idade das árvores.

Quê que nós temos que ver com tanta violência verbal, com tanta inversão de valores?

Com teu pavor do comunismo, com tua ficha no DOI-CODI, teu aniversário de perseguido político, com teu ódio do diferente, com teu medo da morte, com os panelaços histéricos, com a imprensa repentinamente imaculada, com tua vergonha em admitir que erraste de ogro, tua covardia de macho, teu golpe que foi impeachment, tua revolução que foi ditadura. Teu revólver..

Eu penso no meu pai. E no olhar que ele teria ao ver seus colegas médicos na frente da Santa Casa, defendendo o resto do que vem por diante.


3 de abril
Contra a polarização outra vez

I
Vamos ao fato do dia: Mandetta (Medicina e Ciência) tem quase 80% de aprovação popular, mais do que o dobro de Jair Bolsonaro (Negacionismo Evangélico), atesta o Datafolha.

Qual a reação dos polos da sociedade brasileira?

Uma amiga que se diz socialista antes, petista depois, traz o seguinte comentário:

"Olha onde está a mão do "MANETA"! Devolvendo a quem lhe pagou a campanha: O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o governo vai facilitar a liberação de R$ 10 bilhões aos PLANOS DE SAÚDE. O valor faz parte de um fundo garantidor, vinculado à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), composto por recursos das operadoras."

(em tempo, a campanha foi a de 2014 e 100 mil o apoio naquela eleição. Isso é que é gratidão: 10 bi!)

Imediatamente, do outro lado do espectro, outro amigo bolsonarista posta:

"Mandetta é do mesmo partido que o Rodrigo Maia, Alcolumbre e Caiado, o DEM. E esse partido está desde o início tentando desestabilizar o Bolsonaro, portanto a petulância e arrogância do

Mandetta, não é ao acaso, é política! "

Não consigo encontrar um exemplo mais claro de como os dois extremos se equivalem. Basta algo estar minimamente dentro do razoável para que a ideologia radical reaja, enquadre e ataque, não necessariamente com inteligência, diga-se de passagem. Esta situação elegeu o constrangimento nacional chamado Jair Messias Bolsonaro.

II
E para terminar uma notícia de intelectualóide: Alain Touraine está senil. Disse nesta semana o sociólogo francês em uma entrevista para "El País":

"Não existe um movimento populista, o que há é um colapso do que, na sociedade industrial, criava um sentido: o movimento operário. Em outras palavras, hoje não há atores sociais nem políticos, nem mundiais nem nacionais nem de classe. Então o que acontece é o oposto de uma guerra, com uma máquina biológica de um lado e, do outro, pessoas e grupos sem ideias, sem direção, sem programa, sem estratégia, sem linguagem. É o silêncio."

O vício dos franceses em terminar os parágrafos com um doce escorregão poético e redundante enjoa. Não, não é o silêncio, seu Torraine, mas o colapso exatamente das identidades citadas pelo Sr. A pulverização dos atores. E o único sentido da sociedade industrial hoje não é o movimento operário, é o capital. É o capital que deve ser controlado. O gado, agora, é digital, a verdade virtual, o sentido relativo. E não há tea party que reverta isso. Envelheceu o professor de "Penser le sujet", envelheceu o seu papo, envelheceu o séc. XX. Reciclem-se!


7 de abril
Serviço de informação pública

Mundo
Japão decreta estado de emergência
Premiê britânico continua na UTI
Paris proíbe atividades físicas ao ar livre entre 10 e 19hs
Trump autoriza NY usar navio-hospital para infectados

Brasil
30% dos brasileiros não fazem isolamento social contra vírus
Remédio contra Aids tem mais efeito que cloroquina, diz estudo
Mandetta contraria Bolsonaro e se recusa a assinar decreto sobre hidroxicloroquina
Pico da infecção será entre abril e maio. Vírus circula até setembro.
É fake a notícia sobre Mandetta ter renovado contrato com a Globo por 1 bilhão

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Thomaz Albornoz Neves ministra curso sobre como debater no facebook sem perder amigos. Vagas limitadas.


8 de abril
Do poder da indignação

Muitos de nós não percebem. Vivemos anestesiados para os outros, o que equivale dizer que estamos igualmente anestesiados para nós mesmos.

Vejam por ex.:Esta mesma impossibilidade de trabalhar que hoje ameaça quem antes estava relativamente seguro em relação as suas necessidades básicas é o dia a dia de 15 milhões de brasileiros desempregados.

O que a epidemia nos mostra é a realidade dos outros. A que só somos capaz de ver quando nós nos tornamos iguais (em termos, claro está). Mas vou a que esta urgência deveria ser desde sempre política básica. Para grande parcela da população o estado é sempre de emergência.

Indignamo-nos mais e mais rápido quando os bancos cogitam que os 600 reais deveriam antes cobrir as dívidas dos benficiados. Ou seja, os bancos querem o que sempre quiseram, cobrar. A epidemia não altera os fatores da miséria. São os mesmos.

Indignamo-nos com mais veemência quando os EUA confiscam respiradouros e a China triplica o preço das máscaras. Mas é o que sempre foi America First e a lei do mais forte. Ou a globalização não escolhe fronteira?

Elogio ao torturador, política de desmatamento, subserviência ao Trump, truculência em todos os níveis da ação política, demagogia religiosa e a inépcia da oposição caem na normalidade até o momento em que o mesmo desequilíbrio que o elegeu atinge o seu próprio Ministério da Saúde no meio da crise.

Aí despertamos. O cara não é normal. Não, nunca foi. Por um momento até a oposição hesita, não sabe em quem bater, aí decide pelo Mandetta, claro. O outro bate em si mesmo. O outro não é normal. Não, não é mesmo.

Nem nós somos.

(Se algo dessa indignação durasse depois da crise. E nos guiasse na direção do outro. Mal não faria, mal não faria. Mas não vai, vai, não vai...)


9 de abril
I
Bolsonaro faz pensar

Isso ele faz. Estamos sempre procurando alternativas. Mourão, por exemplo. Hummmm. No, no, não. Mais um Vice não faz bem a ninguém. Menos ainda de farda. (Porque será que militar não sorri? Não tanto quanto sorri o civil (bom Thomaz, brigadiano também não mostra dente, mas brigadiano está na rua. Milico não.).) Viram, faz pensar besteira também.

Outro exemplo. Porque será que ele insiste tanto na hidroxicloroquina? Porque dá para dizer que não tem problema, que ela salva da gripezinha, vamos trabalhar cambada, e, de japa, é motivo de demissão de ministro exibido. É por isso... Sim, tá explicado, Bolsonaro faz pensar.

Mas a notícia relevante de hoje vem do STF. Diz o óbvio (não é o habitual no STF). Diz que os

Estados e Municípios tem autonomia para determinar as medidas de segurança do seu pessoal. E de repente: Shazam! O Presidente da República Federativa do Brasil não tem mais autonomia para determinar a política de segurança sanitária aqui, na rua 13 de maio.

(Bolsonaro governa uma abstração. O Brasil, nós com frequência esquecemos, é uma abstração. Toda federação é. Um pacto de territórios.)

Voltamos a ser quem somos. Antes fronteiriços, depois gaúchos, e então brasileiros. Tudo junto é certo, mas nessa ordem. Às voltas com a linha aberta, com os santanenses. Com uma Prefeitura que até agora tem sido responsável. Com um grupo de profissionais da saúde que demonstra coragem e prontidão. Com um governador que... Hummmm, vamos olhar melhor para esse governador aí gurizada. Bolsonaro faz com que só pensemos nele.

II
Nas portas do inverno!

Prefeita Mari Machado atendendo a ACIL e ao CDL libera a abertura do comércio em Sant'Ana do Livramento. Por decreto municipal igrejas abrirão domingo.

Quem precisa do Bolsonaro?

Comunicado de Imprensa da ACIL afirma que os comerciantes, assim como a administração do Município, divide com a sociedade o ônus da flexibilização.

O entendimento imediato, porém, é que se a Prefeita decreta a abertura de igrejas e lojas a responsabilidade é dela. Exclusivamente dela e não da sociedade.

O repúdio a ACIL, ao CDL e a Preitura Municipal é expressado aqui com a maior veemência. A mesma usada contra o Presidente Jair Bolsonaro. Pelos idênticos motivos, claro está .

Todo o capital de controle do contágio bravamente acumulado irá pelo ralo se o Executivo Municipal relaxar a admirável e corajosa posição mantida até agora.

Espera-se que a decisão seja revista e que a Prefeita não se curve às pressões do empresariado e do comércio da fé! Uma biografia se escreve em momentos como este. Não depois.


10 de abril
Sem poesia

I
Não é justo nomear para depois culpar os representantes da ACIL e do CDL que se reuniram ontem com a Prefeita Mari Machado e saíram do Moysés Vianna com a abertura do comércio como se ela fosse uma vitória. O mesmo serve para os evangélicos que lutaram pelo dízimo da Páscoa.

II
Nossa sociedade está dividida. E para quem pensa que a cisão se resume a bate-boca na rede de quem não tem o que fazer, hoje se vê diante de uma das consequências da divisão. São os valores, cara.

(O pitaco de demagogia da Prefeita e dos comerciantes na declaração que dividem com o consumidor os riscos da abertura eu deixo para depois.)

III
Vivemos da parca circulação de riqueza, do comércio e da destruição progressiva do nosso pequeno centro urbano pela predatória e caótica construção civil. Os do campo se foram ao campo. Sant'Ana fica com o que sempre foi: bagageio, tijolo, barbearia.

IV
A parada topada pelo grupo acima é alta. Não sabemos se a epidemia atacará os santanenses com a mesma letalidade que no resto do mundo. Não saber e abrir assim mesmo, a palpite, essa foi a aposta. Seja qual for o futuro, ter feito esta escolha agora é uma derrota moral.

V
Na dúvida opta-se pelo risco. Se der errado, os médicos poderão estar na situação de escolher quem respira e quem não. Não são anônimos, Prefeita. É neles que recairá a decisão da sua decisão.

VI
Já vamos ver se a hidroxicloroquina cura ou se é só uma bravata política, vamos ver se Bolsonaro está certo, se somos um bando de medrosos escondidos em casa. Paga-se para ver. Aqui, os ratos de laboratório.

E o que veremos não apaga a enorme irresponsabilidade cometida por esta decisão.

VII
Quem tem cacife para pagar essa mão?

Aqui o que há é uma inversão do poder decisório. Não deveria caber a Administração Pública exclusivamente decidir sobre a prevenção da epidemia. O Diretor Médico da Santa Casa de Misericórdia, acaba de se manifestar publicamente:

- Não estamos prontos!

Ou seja, não há estrutura hospitalar para enfrentar o aumento de casos. Dos 10 leitos na UTI, há hoje 3 livres. As pessoas podem morrer por falta de tratamento específico. Isto sem contar que o atendimento é regional, não cobre apenas o município.

Quem pensa que a conta é só da Prefeita se engana. Quem a apoia, quem cala, quem vai levantar pandorga é conivente.

Tem vento. Pela primeira Páscoa em anos, tem vento.


11 de abril
A notícia virou pó!

A Santa Casa de Misericórdia aguarda ainda a chegada de 10 leitos equipados, o que dobrará a capacidade do atendimento intensivo. A nova UTI vem do Estado.

A corrida para preparar outra equipe de intensivistas já começou. Deve-se levar em conta que o atendimento é regional, dividimos nossa estrutura com outros municípios. Porém, de nada adiantam mais leitos se o hospital não possuir o equipamento de proteção individual. Um médico sem máscara é um médico infectado. Daí o Diretor ter declarado ontem que não estamos prontos.

Por outro lado, a decisão do STF sobre a autonomia dos Estados e Municípios provocou um saudável exercício de democracia em Livramento. Representantes do comércio e das igrejas evangélicas pressionaram a Prefeita pela abertura de lojas e cultos. A resposta da Igreja Católica, através do Padre Leandro Lopes, e do Ministério Público, que conseguiu liminar contra a abertura dos templos, foi imediata.

O rumor é de que a Prefeita, diante da reação, teria sido obrigada a mudar de ideia sobre o relaxamento do isolamento social. Programas de rádio, mídia digital e jornais impressos que noticiaram bombásticamente a abertura do comércio se retratam.

A notícia virou pó.

A ser confirmado, o recuo da Prefeita ensina que o Municipalismo aproxima a sociedade das decisões da Administração Pública, e que essa aproximação é um exercício real de cidadania.

Ou seja, que nós temos peso.

Ensina também que o líder deve saber quando avançar e quando voltar atrás. O recuo é caro.

Acusações de fraqueza serão feitas. Mas o outro lado me parece mais elogiável: a coragem de fazer o certo apesar do desgaste.

Já aqueles políticos locais que desde ontem se fazem ouvir através do silêncio mais ensurdecedor, o que esperar deles?

Sim, o tombo do balde...


12 de abril
O caminho do meio

Bem, já estamos de acordo que não é uma gripezinha, certo? E também que devemos seguir a orientação dos especialistas em saúde para definir a estratégia de defesa da população, não é mesmo?

Sendo assim, nos resta uma questão prática: como controlar o contágio e trabalhar ao mesmo tempo?

Qual seria então a primeira prioridade para enfrentar tal desafio?

Cai de maduro. É a estrutura hospitalar. A equipe médica emergencial está pronta. Mas falta o equipamento para dobrar a capacidade da nossa UTI que já deveria ter chegado. Temos só 15 respiradores e apenas 10 leitos.

Por que nossa UTI não chega, se Santa Maria, tendo pedido depois e sendo menos vulnerável do que nós, já recebeu a dela?

Outra boa pergunta, ninguém sabe.

Talvez fosse uma boa ideia sugerir ao Presidente da ACIL, meu querido amigo Roberto Fervenza, e aos comerciantes que ele representa, de fazer pressão em quem deveria ter enviado a nossa UTI e protela.

O que falta em Sant'Ana do Livramento é mobilização. E os comerciantes podem ajudar.

Não só eles. A sociedade e seus representantes, a Igreja Católica e as Evangélicas, o Ministério Público, a OAB, o Rotary Club, o Lions e as Logias poderiam agir pelo que hoje é essencial: equipamento de proteção individual hospitalar, os tão falados testes para coordenar a prevenção e o atraso da UTI.

Com essa estrutura mínima montada, podemos dar os próximos passos para a abertura do comércio através de um mutirão de conscientização da população menos informada, de um esquema de organização da circulação e de normas de segurança no atendimento dentro dos estabelecimentos comerciais. E rígida fiscalização integrada, claro.

Isto deve ser feito com anterioridade e de forma planejada. Não a prepo, de cima para baixo, marca-se um dia e pronto: tudo aberto, como foi sugerido à Prefeita na semana passada.

A questão é para quando?

Não sabemos. O que sabemos é o que pode e deve ser feito hoje. Agora. E fazer. Vamos?

p.s. Templo na Silveira Martins com Tamandaré está aberto. O culto em andamento, 3 guarda-costas na calçada e fiéis sem proteção. Se com o decreto há abuso, imaginem sem. A fiscalização é fundamental. (18.30 hs)


14 de abril
E a UTI que não chega!!!!

O pensamento conservador por definição resiste. É uma reação imediata. Nega-se a ver a necessidade da mudança. Precisa ser convencido com fatos. Mas mais que isso, hoje não bastam imagens de todo o mundo, diante de tantas leituras ele precisa presenciar esses fatos.

O tão falado negacionismo é um impulso reacionário. Por outro lado, a oportunidade que o vírus cria de transformar a estrutura da nossa sociedade é explorada pelos reformistas. Não há como evitar, o vírus já nasce politizado.

Mas há questões que, claramente, unem a direita e a esquerda. O descaso com a saúde é uma delas.

Que o vírus hoje nos dê argumentos que não podem deixar de ser ouvidos para fortalecer nosso hospital pela primeira vez em décadas é uma vergonha.

Pois é o que está acontecendo. Insisto: devemos esquecer os lados e juntar esforços para trazer nossa UTI, os equipamentos de proteção individual para médicos e enfermeiros, os testes para, pelo menos, as categorias essenciais.

Leio aqui muita gente reclamando do comércio fechado. Não vejo ninguém pensar em preparar a abertura desse comércio.

E para abrir temos que ter Hospital. A UTI saibam, não chega. E ninguém sabe a razão.


15 de abril
I
Dois caminhos, talvez três

Pulula nos clippings a demissão iminente de Mandetta. O cara ficou muito grande, até o Mourão sentiu a sombra. Vamos ficar sem a rede de proteção da racionalidade.

Se for confirmada, vejo duas saídas.

A primeira e mais evidente, é virar bolsonarista (viver em conflito), crente (Deus é minha vacina e me imuniza) e pôr a boca no trombone contra o percentual de vítimas da gripezinha x as vítimas da recessão (abrir uma fábrica de caixões será a ideia empresarial do ano). Não tem pra ninguém, virar brasileiro é confiar no Mito. Afinal, o vírus é chinês e comunista mesmo.

A outra é a desobediência civil. Thoreau na veia. Abdico do Brasil. Viro fronteiriço, cuido da 13 de maio, desde a Tamandaré até o Hospital, uns 300 mts na reta. Vou ter tabalho com o supermercado.

Mas paz de espírito.

Talvez haja uma terceira, e o crime de responsabilidade no exercício da função caiba e degole esse trem sem trilhos que é o Jair Messias Bolsonaro.

p.s. Três, na falta da correta, que seria manter o Ministro.

II
Mandetta ao Vivo!

Bom, o que eu assisto na TV é um estadista. Em todos os aspectos. Até a humildade é grandiosa. Eu não morro de amores por perfomance pública de ministro. Tudo é manipulação. Sempre. Mas esta sinceridade é eficaz, vem junto com algo autêntico. (Lembra o Joaquim Barbosa, só que sem raiva).

Mandetta é um caso raro de alguém que capitaliza sem fazer discurso. É o anti-discurso. É o maior político brasileiro do momento justamente por não fazer política.

Quem não está com a alma lavada é porque pensa em eleição. Quem não se diverte? Hein, Macunaíma!!!!

p.s. Se Bolsonaro se orgulha de ter escolhido um Ministério técnico e não político, como poderia esperar desses ministros decisões políticas? Eles são técnicos, ora.

16 de abril
A reprise de Tubarão

Diante da demissão do Mandetta e da simultânea leitura do decreto de abertura do comércio pela Prefeita Mari Machado, o único comentário que me vem à mente é: cuidem-se, não entrem no mar.

A responsabilidade recai agora exclusivamente sobre o cidadão consciente. Vivemos à nossa própria sorte. Não me desagrada, tenho por princípio a liberdade individual. Me preocupam os presos da ignorância, sem proteção, em grande maioria miseráveis.

Poderia comentar a linguagem corporal do Bolsonaro, mas ela fala por si. E sobre o timming do pronunciamento da Prefeita, mas para bom entendedor o subterfúgio grita. Ou poderíamos assistir em sala de chat - tão atual - a reprise de Tubarão... Nada muda. Está tudo lá. Entrem na água.

Sabemos que diante do pior, ninguém assumirá o peso do seu apoio sobre a enorme responsabilidade da decisão. E isto se afirma diante do silêncio que se ouve agora. Quem cala, consente.

Torço estar errado e vocês certos. Estamos no meio do filme . Não me resta outra.


18 de abrilUma nota de caráter pessoal
Em tempos de decisões que podem determinar o destino das pessoas e o que se considera bom senso é contrariado, é difícil manter a resiliência. Embrabecer emburrece. A estupidez e a falta de caráter nos atingem com mais intensidade. Sem perceber, nos contaminamos.

Isto para dizer, que por um momento, entre a troca de Ministros e a abertura do comércio, me tornei eu mesmo novamente. A pior versão de mim. Intolerante, revoltado, agressivo, despectivo. Contrariei tudo o que tento transmitir aqui: bloqueei dois amigos.Bem me fez!

Agora voltei ao personagem (falso) bondoso, tolerante e bem informado novamente. Sigamos.


20 de abril
Super quem?

Horas após ter demitido seu ministro comunista do DEM, o Presidente atacou duramente outro líder comunista do DEM, o deputado Rodrigo Maia. Rodrigo é a nova geração de uma encardida linhagem de soviets fluminense. É filho do trotskista César Maia, genro do stalinista Moreira Franco e chegou à Presidência da Câmara pelas mãos de outro líder anarquista radical, Michel Temer.

Está explicada a ausência do PT no cenário político atual. Caiu do espectro. Não tem mais lugar à esquerda desse pessoal aí.

Chega de hipocrisia, o problema não é ideológico. É político. E trágico.

Não há liderança no Brasil hoje com apelo popular para convocar mais do que panelaços contra este que é o maior reflexo da ignorância da nossa população: o Presidente da República Jair Messias Bolsonaro.

Senão, me digam: quem vai sair às ruas para defender um fisiologismo capaz de usar a epidemia como instrumento de pressão?

Estamos em um dilema.

E, de quebra, temos um ex-superherói que perdeu seus poderes. É hoje um reles Ministro da Justiça mudo e submisso que assiste marmanjos com a bandeira do Brasil de capa socando mulheres em Porto Alegre. São os Super-quem, mesmo?

Sim, claro, os Superbozos.


23 de abril
Desde a Fronteira

É um fato incontestável que aqui na fronteira, graças ao isolamento feito de março até a semana passada, a epidemia foi controlada. A certeza desta afirmação é dada por comparação pelo vizinho Município de Bagé, onde bastaram dois médicos vindos do Rio de Janeiro contagiarem outras duas pessoas para os 30 casos ocorridos lá. É também um fato que Bagé controlou a onda com identificação e cerco social.

Isto para dizer que saberemos das consequências da abertura das atividades daqui a pouco, no início de Maio. Somos uma só cidade, Sant'Ana e Rivera, nos espelhamos. O comportamento nas ruas lá contagia o daqui, e vice-versa. Não há o Brasil e o Uruguay. Somos nós, apesar dos idiomas e dos temperamentos distintos.

É uma sensação meio esquizofrênica essa. Temos duas políticas com dois tempos e duas medidas, aplicadas por governos diferentes. Mas o povo nas ruas reage muito parecido. As gentes, não a abstração da linha divisória, da pátria, do país. Diz um pouco para os de fora, como em uma fronteira aberta à globalização é realidade. Pessoas na Terra, como os bichos e as árvores.

Se morrer gente, vai ser ali, aqui e lá. O vírus é silencioso, mas manja portunhol.


24 de abril
I
Eu me ponho no lugar de vocês
Eu tento me por no lugar de quem votou no Bolsonaro. Quando o chefe do Ibama foi demitido por queimar tratores dos madeireiros, o ministro nazista virou a Regina Duarte, o gabinete do ódio instalou-se no Alvorada, ou quando o COAF foi tirado da Justiça por causa do Queiroz... Enfim, quando esse café pequeno todo aí aconteceu eu entendo que deu para olhar ao outro lado.

Mas como não prestar atenção na vaidosa fritura ao Mandetta, no discurso na caçamba da camioneta diante de faixas com "A.I. 5", os ataques ao Maia enquanto negocia com o Valdemar Costa Neto (Sim o mesmo Valdemar velho de guerra investigado pelo Moro)...

Como não ver o Presidente na frente do Alvorada tomando passe de uma rodinha de pastores? Ou a assustadora aparição ultratumba do Roberto Jefferson, aquele patriota com bigode de Pancho Vila, dizendo que ao Jair se defende a bala (em troca de quê, Jeff?)...

E hoje, a demissão do Diretor Geral da PF por causa dos inquéritos contra aqueles filhos retardados.

Eu sei que vocês estão bem treinados em olhar para lá, mas me digam como não ver agora que o

Moro pega o boné? Ou será que ele também é comunista?

Vejam, não falei na pandemia.

Nunca antes um voto teve tanto peso nas costas de um brasileiro. Eu entendo, sabem. Especialmente se me ponho no lugar de vocês e me nego a ver. Eu sou capaz de sentir o peso no escuro.

II
Reequilíbrio ao Centro

A impressão imediata é a de um reequilíbrio que remete a antes do impedimento a Dilma Rousseff. A articulação contra a sua aliada de chapa feita pelo Temer e realizada pelo Cunha desviou o curso de um ciclo que deveria ter chegado ao seu fim agonizando naturalmente. A sua interrupção criou o discurso do golpe e o desastroso mandato do Temer deu ao PT vida para concorrer a mais uma eleição.

Não houvesse impedimento, Bolsonaro não teria existido. O PT de Rousseff não ameaçaria o suficiente para justificar uma escolha tão extrema.

Hoje uma certa harmonia se reestabelece no cenário político brasileiro. Não existem salvadores da pátria. O Brasil amadurece mais em um único dia do que em todos estes recentes anos de agressão vazia e inimigos ideológicos imaginários.

Sim, a polarização radical nos trouxe até aqui. Hoje ganham os moderados. Podemos finalmente pensar em um mundo sem fanatismo na pauta diária. Bolsonaristas migrados ao Moro se suavizam por encanto. Por outro lado, olhamos a breve euforia debochada do radical de esquerda como quem espera o fim da gargalhada para educar a criança.

III
Mártir

Peço desculpas pela terceira postagem do dia. Mas as provas que Moro deve ter arquivado acabarão com o governo. E o perfil de Jair é o de escolher ser mártir a deposto.

Mártir, já pensaram nisso?


25 de abril
Impasse

Para que tenhamos alguma ideia do impasse da esquerda neste momento devemos pensar no quanto custará em 2022 impedir Bolsonaro hoje tendo como motivo Sérgio Moro.

Não é por Lula, pela Lava Jato, nem certamente será pelo dano que causa ao país ser dirigido por um Bolsonaro em plena pandemia que o PT hesita em apresentar pedido de afastamento no Congresso. É por cálculo.

A serem confirmadas as acusações de tentativa de interferência do Executivo na Polícia Federal, não esperem da oposição a decisiva reação contra o Presidente. A oposição teme Moro e está já concentrada em desconstruir sua saída. Como? Eles não tem a menor ideia.

A reação, uma luz verde no escuro do Maia, se tiver de vir, virá do Alto Comando. É onde hoje o poder mora. Suspeito que Mourão está ocupado agora de manhã.


26 de abril
Três extratos do espectro

Conversa 1 (com a esquerda)

Diante da massiva volta aos murais da oposição demonizando Moro e santificando Lula:

- O juiz Sérgio Moro é responsável por processos viciados, condenações sem provas, escutas ilegais, oportunismo político, violação de direitos individuais, conduções coercitivas abusivas, manipulação da mídia, vazamentos de delações, não nessa ordem mas é por aí...

- ok. Eu até compreendo toda a narrativa. E nada do apontado acima é mentira. Mas para 2022 são fatos irrelevantes. Vocês estão pregando novamente para conversos. Resolveram bater no Moro desde ontem. Mas ao ressucitar o "Lula inocente" impulsionam a campanha do Moro justamente naquela parcela do eleitorado que precisa ser atraída, a dos moderados que votou no Bolsonaro. O que o PT deveria estar fazendo para desconstruir a cadidatura do Moro é reconstruir a sua própria. Sem Lula.

Conversa 2 (com um moderado)

- TG, te sugiro afastar os fanáticos. Por experiência própria são perigosos e traiçoeiros.

- Gosto deles, aprendo muito. Como nós, eles querem o melhor para a sociedade. A diferença é que onde questionamos, eles tem certeza. Por exemplo, estão convencidos que o mundo seria melhor sem a nossa existência, só com a deles. Eu já tenho as minhas dúvidas.

Conversa 3 (com a direita)

Diante de uma matéria sobre Lula não ter boa relação com Tarso Genro, então Ministro da Justiça. A notícia servia de gancho para dizer que Lula também interferia na PF, como se isso fosse importante no contexto atual.

- TG a mi edad no entro en debates inútiles apenas expreso mi opinión.

Apaguei meu comentário no mural do amigo e me senti um guri bobalhão escrevendo inutilidades.

Vou girar a laterna para dentro, para a poesia.

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  De Mar Becker sei que nasceu em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e que é gêmea de Marieli Becker. Sua mãe, Meiri, costurava em casa e sua avó, Maria Manoela, foi vítima de uma tragédia não revelada às netas crianças. Que estudou filosofia e hoje mora em São Paulo, na reserva de Guarapiranga, com Domênico, seu marido. Sei que é leitora voraz, que tem bom gosto poético e que é culta, que gosta de cavalos, cães, gatos, Zitarrosa, de música nativista e de Glen Gould. Que toca violão e canta, gauchinha, com voz meiga, quase infantil. Sei outras coisas que, como estas, importam pouco, são letra fria diante do que ela escreve e da forma como escreve os poemas de "A mulher submersa", seu livro de estreia publicado pela editora Urutau.  A primeira impressão de leitura é de que esses poemas foram impelidos por instinto de urgente sobrevivência. Apesar da urgência, há neles lenta maturação e extremo refinamento. A leitura nos deixa quietos, maravilhados muitas vezes, enternecidos e ...

4 sonetos

Um regente do acaso para Raul Sarasola O encarte da exposição traz o artista empilhando discos de pedra lisa -gravity meditation não dualista- em três fotografias sem camisa (A pilha suspensa em ésse, o desnível, repele a queda mas captura a ameaça Aproxima o possível do impossível alinhando o centro de cada massa) Vem do caos o seu olhar polifacético Raul se entrega ao piche, ao ferro, à tela e, absorto, do escombro tira algo poético Quando plena, a ausência age, rege o acaso A face surge sempre com atraso É o abstrato sumindo que a torna bela Sant’Ana, 19 de junho 2016 Fotos em exibição Há uma série oculta em cada p&b A Chirca, O Miniabismo, O Véu, A Crosta Essa falésia é e não é uma ostra O longe vira perto, o vesgo vê Seria o lírio um pássaro pousado? Onde a sombra muda o ponto de vista outro real, que o filme não registra, some ao passar apenas vislumbrado Um campo, o céu, tão remota a brancura O nanquim de um salso no vento ao fundo O atemporal que entre as rajadas dura E pre...

Saudação a Sydney Limeira Sanches, meu amigo

        Amanhecia hoje quando, ainda de olhos fechados, comecei a fazer um exercício de memória. E minha memória é péssima, devo dizer. As lembranças surgem em cenas soltas e passam desconexas.  Pilotis da PUC, Ala Kennedy. Março de 1982. Por acaso, nos encontramos sentados lado a lado na última fileira de cadeiras, Sydney e eu, dois desconhecidos, durante a primeira aula de Introdução ao Direito. E assim, lado a lado, seria durante os cinco anos seguintes, até a formatura. Depois de oito meses morando em Copacabana e sem conhecer ninguém, Sydney foi o primeiro entre os cariocas que me disse:  -Passa lá em casa.            A diferença foi que me deu o endereço.  Sydney é tijucano.            Com a TV na garagem e entre os seus amigos de infância, o Reco, o Dado, o Osvaldo e o Girino, na calçada pintada de verde-amarelo, assisti o primeiro jogo da Copa de 82. Brisa se chamava a ...