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O vazio dos bilhões







Escrevo de vez em quando para as redes sociais esperando em vão penetrar nos pólos duros do pensamento partidário. Penetrar na unanimidade que desinibe e faz com que se diga tanto absurdo, afinal quem discorda está bloqueado. Pasmo, espio nos comentários de uma admirada escritora que a vez agora é da Dilma, já que o golpista caiu. (Não estatelou ainda, mas vai em queda livre.) E os saudosos da ditadura, babando pelos milicos, aproveitam o momento e juntam coragem para, sem constrangimento algum, confundir o caos atual com a Guerra Fria e tentar impor a vontade pela força. Defendem que quem decide é o dono do fuzil. Em pleno século XXI. 



O fato é que a pós-verdade, essa novidade de quase 90 anos criada por Goebbells, desfaz-se ao menor contato com a realidade. As Instituições estão firmes como barro molhado. Mas a lei ainda as sustenta. Não teremos a volta dos Generais. Nem de Dilma, benzadeus. Um Presidente da República galgado ao poder por um Congresso semelhante está a ponto de renunciar ou de ser deposto, acusado de obstrução da justiça, corrupção passiva e organização criminosa. Vai em cana. E não sozinho, Aécio que o diga.



Nunca antes como hoje tivemos a oportunidade de apontar quem, vestidos de capuz e malha negra, marioneteia desde o fundo escuro as cordas que movem os políticos. Aqueles que compram o Brasil que os corruptos vendem. É fácil identificar um que outro pau mandado. São os testas de ferro que estão na beira da piscina com tornozeleira eletrônica enquanto os pequenos comissionados como Cabral ou Cunha  apodrecem na cadeia. Fico pensando a quem Temer, Dilma e Lula delatariam. Não o contrário. A quem FHC delataria? Ao sistema?



Não sei bem a razão... Mas olho os políticos em Brasília e só presto atenção nas barrigas. As de hoje e as de antes. A dos Magalhães, Motas, Jeffersons, Delcídios e Geddéis A sucessão de mandatos, um desfile de barrigas idênticas passando pelo plenário com cabeças diferentes enquanto o esquema permanece. E fica claro quem serve a quem. 



Já os empresários, os donos do Congresso... Eikes anabolizados, Marcelos anoréxicos, os JBSs de fifth avenue...



Cui bono?



O dinheiro em si. Porque aos indíviduos restam o vazio dos bilhões. Aqui nos trouxe a democracia submetida ao capitalismo extremo. A democracia refém desse reitor planetário que controla quem o possui e esmaga o resto. (Sim, entre todas, a demagogia do Mujica é a mais bela, a mais humana.)



Se temes Lula, leitor, temes a democracia. Logo ele que se aliou com o Brasil mais antigo e vendeu a alma ao populismo para no final das contas governar também para a mesma a elite corporativa. Ou o capitalismo de Estado é menos perverso que o privado? Desmata menos? É mais holístico?



Duvido que haja reeleitos. Duvido que Lula, FHC, Jobim, Dória, Bolsonaro, ou quem quer que surja do meio político atual vença. Sou ingênuo. Acredito que estamos aprendendo. Erramos tanto. Vamos votar outra vez. 


Em alguém com alguma dose de humanidade. Um brasileiro qualquer.

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