Em um comovente elogio à memória do seu amigo, o poeta alegretense Laci Osório, meu pai conta que começou a escrever poesia por ter sido desafiado. Conhecera Laci declamando O Trigo – uma das suas mais belas poesias – no Instituto de Radiologia do Dr. Hugolino Andrade, na década de 70. A sala do Dr. Hugo, nesse tempo, era uma espécie de oficina freqüentada à diário por seus amigos daqui e pelos que estavam de passagem na cidade para discutir política, atualizar fofocas locais e, eventualmente, medicina. Laci, notando o interesse demonstrado por meu pai, ficou de passar pelo seu consultório, o que fez naquela mesma tarde. Ele vendia, na ocasião, enciclopédias, dicionários, publicações de arte e obras literárias. Mostrou também alguns poemas em gravuras e livros da sua autoria, modestamente e sem maiores comentários. Começava assim uma relação que teria um papel relevante na vida do meu pai. O médico da província e o poeta comunista foram amigos até a morte deste, ocorrida mais de 30 anos depois.
Em uma das visitas ao consultório, Laci mostrou alguns novos poemas e, diante da reação reticente, perguntou se o amigo não tinha gostado. Este, com franqueza, lhe responde que talvez fizesse melhor. – Pois faça, respondeu Laci. Faça doutor e que na próxima vez o Sr. também tenha versos para mostrar.
Eu já conhecia a estória, mas ao ouvi-la em público, no elogio, ocorreu-me que meu pai, como algumas pessoas que conheci, sempre fôra poeta, apenas não escrevia poemas. Sim, mesmo antes de formar-se em medicina, eu me disse, meu pai já era um poeta. O que sua sensibilidade, polida pela leitura e amadurecida pela vivência, aguardava era um detonador que rompesse o silêncio de mais de duas décadas, se contarmos de quando o estudo universitário calou o sonetista adolescente aluno de Celso Luft e discípulo de Antero de Quintal. Em Laci, 18 anos mais velho e artista de ofício, meu pai encontrou um mestre, não – claro está – para a sua poesia, mas um mestre da própria poesia. Como ele mesmo diz:
Durante as longas discussões sobre os nossos poemas, insistia em que devíamos ser simples, claros, concisos, mas não tão simples que só nos ocupássemos das coisas simples, não tão claros que o brilho nos ofuscasse, nem tão concisos que chegássemos ao hermetismo. Na poesia – dizia o Laci – a inspiração deve ser sujeita à síntese.
Mais tarde, já nas conversas que mantínhamos sobre poesia era meu pai quem defendia o ritmo, a harmonia, o começo, o meio e o fim do poema. – Não manda ninguém ao dicionário, Thomaz. Escreve para que todos entendam. Ao que eu lhe respondia, com a imodéstia da juventude, que escreve-se para ser lido antes por si mesmo e depois pelos outros poetas, para fazer respirar a língua, etc... Ou seja, apesar das preferências pessoais e das diferenças entre os autores de versos, a poesia os une e os torna cúmplices na paixão pela palavra. Ao meu ver Laci Osório foi, por exemplo, uma vítima da sua estética engajada. Digo vítima porque a convicção política impregnou seu lirismo quase ao ponto de sacrificá-lo. Não fosse o poeta que foi e teria sucumbido junto com os poemas políticos que escreveu. Getúlio soube filtrar a ideologia do amigo e nutrir-se da energia pura gerada nele pela linguagem. Há contextos em que a presença de um verdadeiro criador é capaz de inspirar tanto ou mais que seu poema.
Poetas
Pequenos ou grandes
os poetas nascem juntos
e vivem tão distantes!
Têm o sentido da sombra comum
que fazem sobre o cipoal em luta
e os seus versos
graves ou lúdicos
jazem como folhas
no poema do solo.
Durante os 15 anos seguintes meu pai escreveu os poemas que reuniria sob a capa de A Ira do silêncio, publicados por esta mesma casa editorial, em 1986. Conta então 56 anos. Poeta pronto, transita com igual domínio e naturalidade pelo verso fixo e pelo verso livre. “Águas Siladas”, de 1992, confirma o primeiro livro e o continua, animado pelo mesmo estado de espírito maduro, pleno e horizontal. Há quem pense que a vida de um poeta na província é solitária. Mas não necessariamente. Homem aberto, Getúlio cultiva seus pares. E o faz com a constância das cartas, dos encontros ao redor da boa mesa, dos longos telefonemas. Além do Laci, nesses primeiros anos, estreitos laços o unem ao companheiro de juventude, o poeta de São Sepé Afif Simões Filho, ao poeta de Santa Maria Armindo Trevisan, ao seu editor e também poeta Carlos Jorge Appel e ao poeta Antonio Carlos Osório, radicado em Brasília. Para citar apenas os de fora de Sant’Ana. Precisamos mesmo, para afirmarmo-nos, não mais que meia-dúzia de leitores sinceros, que leiam nossos versos com o mesmo vagar com que foram escritos e nos digam usando dureza e carinho o que pensam sobre eles. Durante o seu período de afirmação, nestes poetas meu pai teve os dele.
Há pelo menos cinco vertentes formais recorrentes nas duas primeiras coleções de poesia e elas refletem suas explorações estilísticas. São evidências de quem procura estabelecer zonas de conforto dentro do alcance da própria voz. Tercetos de Ruínas de São Miguel - 1984:
(...)
VI
Céu antigo pendendo dos beirais,
a recortar abóbadas azuis
indiferente ao coro dos pardais.
Depus o sal nas bordas do meu verso
sandalias descalcei para adentrar-te
penumbra que já foi um Universo.
O pó da história levo nas retinas
e a sensação também de fazer parte,
de que modo não sei, destas ruínas.
Vão quatro quadras – tão diversas entre si –. A primeira remonta ao Ibiquí em que foi criado
*
Entardecer de iguapés.
Eram sargaços em chamas?
Eram cores sem raízes
que o rio no lago derrama.
esta, singela, com as mãos da sua mãe Lira:
*
Percorro as ruas antigas
com infinito cuidado
de mãos que alisam, amigas
gastos e lindos bordados.
e o poeta e o médico que juntos dizem:
*
Agradeça a anarquia
que te faz a gurizada
fome não tem alegria
febre não dá risada.
ou ainda
*
Lembrança do teu amor
carrego sempre comigo
ferrugem de ouro velho
deixado em veludo antigo.
Sonetos. Destes existam talvez mais inéditos que publicados. É na medida do soneto que, durante uma longa fase criativa, seu pensamento, emoção e inspiração melhor se equilibraram. O par que segue não viu prelo.
Dia de chuva
É muito bom a gente ler Quintana
quando as goteiras pingam nos beirais
e a gente pensa que aqui em Sant’Ana
esta chuvinha não acaba mais.
Acendo o fogo na minha cabana
junto aos amigos tempos invernais
fazendo votos que toda a semana
os dias permaneçam sempre iguais.
Que se aborreçam outros, não importa!
Eu amo a chuva e as gordas suadas
Eu amo as vesgas e a madeira torta
Eu amo os dias neblinando assim
comendo este mingau às colheiradas
e tu Clarisse agarradinha em mim.
A forja
Esta é minha forja, aqui mourejo
na rubra boca deste estranho forno
de onde retiro o bloco informe e vejo
a vida palpitando no meu torno.
Confesso, às vezes, sem o menor pejo
não ser possível dar um tal contorno
que eu gostaria e que o meu traquejo
sabe melhor para qualquer adorno.
Mas, não desisto, obstinado, em frente
sigo, na busca tensa, emocionante,
contínua e renovada dos meus temas.
E,se tropeço, as pedras calmamente
recolho, e as vou polindo no constante
roçar nos versos soltos dos poemas.
Bem, publicados estão agora. Imagino que Dia de chuva tenha sido rejeitado pela modesta singeleza e A forja pelo descarrilhar de enjambements que o fazem claudicar um pouco na descida. Mas talvez seja justamente por isso que os recordo tanto. Pela sua imperfeição terminada... Esta é minha forja, aqui mourejo e Eu amo a chuva e as gordas suadas / eu amo as vesgas e a madeira torta são versos que me acompanham desde que o pai os leu para mim pela primeira vez, no final dos anos 70. Ao folhear seus livros, é sempre sobre um soneto que detenho o olhar primeiro. Entretanto, exceptuando as quadras, a maior parte de sua obra até o momento é composta de poemas brancos. Poemas mais ou menos discursivos cujo cenário dominante habita antes no interior do autor para, desde lá, invadir a realidade.
En pasant
Tamborila a chuva amplificando a minha insônia
A imaginação nebuliza os objetos
apalpando-lhes os seus contornos cegos
penetrando em seus esconderijos
Constato a presença dos adversários mudos e atentos;
cautelosamente
analiso as sombras na madrugada
e faço um movimento de avanço.
De imediato, fogos sinalizam e
um guerreiro destaca-se, fazendo perigosas
evoluções de luta.
Comtemplo-o firmemente e lhe declaro
o quanto é insensata a sua atitude – ele, então,
parece aquietar-se
mas não depõe armas, como é de uso nestas circunstâncias.
E assim ficamos por longo tempo;
por fim, as barras do dia o enclausuram junto com um bispo.
Bem sei que a noite o libertará
por alguns dobrões de cizânia. Estou, porém,
prevenido e aproveito a luz para
esculpir os brasões nos meus tabuleiros, tão
necessários.
O leve absurdo de
O Sorriso de Deus
Eu tinha uma rosa
chamada “Sorriso de Deus”.
Era tão bonita que um guri
destes barrigudinhos, a comeu
pensando que era um doce.
Aí Deus sorriu desdentado
e pediu outra.
Se levarmos em conta os poemas citados e considerarmos que são pinçados ao acaso da minha memória afetiva desta obra em processo, podemos dar por sentado seu ecletismo de forma e de conteúdo. É também evidente que ele não premedita o poema. Ao contrário, permite que o impulso poético dirija o verso ao terceto, à quadra ou o desestrofize, derretendo-se à partir da linha seguinte. Apesar do repertório de estilos, sua voz não muda. Essa espontaneidade de timbre, caráter do que é genuíno, é uma das marcas da sua escrita. Cedo percebe que poetizar o poema, como diz João Cabral, o artificializa. Dosa a beleza com punhados de verdade. Não o inverso. Meu pai é um exímio diluidor de influências. Difícil determinar em quem apoiou-se e quando. Autodidata, sei das suas preferências literárias por freqüentar a mesma biblioteca e pelos livros que dela me sugeriu ler. É raro encontrar a sombra de outros poetas nas águas dos seus versos. Não à mergulho de apnéia. Como leitor, sei da sua admiração por Whitman e Pessoa. Que bebeu em Camões e Bocage. Conhece toda a poesia moderna. De Dario a Vallejo, de Huidobro a Cernuda, dos surrealistas aos beatnicks, de Ungaretti a Montale. Mas é com Antero e Cruz e Souza, ou Manuel, Cecília e Quintana que sente-se a gosto. Viveria perfeitamente sem Drummond, Murilo, Cabral ou Gullar na prateleira. Despreza a política do meio e nunca teve – que eu saiba – projeto literário algum além de escrever o próximo verso.
Há, nesses dois primeiros livros, poemas que aspiram ainda ao círculo fechado, a completude. Em “Itaipu”, “A gota”, “A moeda”, “As ruínas de São Miguel” o poeta busca pela totalidade, e através dela, enfrentar a desintegração. Ele tenta, através da poesia, desacelerar a percepção de um mundo que constantemente fragmenta-se à sua volta. Nesta luta é de um moderno hoje antigo.
Onde o azul não chega
Túmido e completo
aguardo nos grãos de areia
a túnica do esquecimento.
Concha, abro-me ao passo silencioso das algas
Neste mundo sem luz a ferrugem
estampa cor de cereja fresca
difícil de encontrar propósito.
Imune a estas provocações
incorporo-me à coreografia
dos sedimentos.
Sou-me e basto.
Sobre a reunião Quadras e quadros, de 1998, foi escrito que não por ser a mais simples seria menos ambiciosa. Junto a contenção formal das Quadras, os prosapoemas de Quadros reduzem o discurso e alcançam um despojamento poético quase absoluto. Se nas quadras os temas caros ao poeta se oralizam ao ritmo da trova, nos quadros, as reflexões parecem estar na página como no pensamento quando a idéia se detém. Nos dois casos tem-se a impressão de composições em trânsito, o diário de um contemplativo. Apesar do formato, o tom registra a mesma ternura entrelinear e a mesma comoção resignada que o caracteriza.
Ser uma estrada antiga a entrar nas vilas
e desmanchar-se em ruas calmas e tranqüilas
Este lirismo minimal rege seu canto, sempre dolce e mesto. Ao Lotar, seu mascote, escreveu este
Cão, no domigo
O carinho se enrosca no pêlo
crespo – rosa na trama da cerca viva.
As patas são gastas
e limpas
lembrando pardais com quem repartem
o condomínio das ruas.
Sacristão desta praça
vem de banco em banco recolhendo
seu dízimo de amor.
Sinto nas mãos a lambida áspera e
lhe invejo os olhos
que não sabem guardar
os recados da vida.
Abana a cauda pausadamente e sem pedir
recibo vai embora.
Muitas vezes o leitor sente que nas quadrinhas o poeta brinca com barro.
*
Velha gorda igual a esta
confesso que nunca vi
é corpo para duas almas
é mesmo um plural de si
*
Eu juro que já tentamos,
senhora, de todo o jeito
agora só continuamos
se lhe faltar com o respeito.
Por outro lado, e guardando as devidas proporções, não é difícil detectar na quadra um nobre parentesco com o haikai.
*
O teu vulto entre neblinas
vai ficando no passado
poeira de areia fina
sobre o cristal machucado
Traduza em ideogramas... passado / poeira sobre cristal / vulto neblina...
Parece, a quem compara o pequeno livreto com os trabalhos anteriores, que na artesania da quadra o poeta busca popularizar-se. Há nessa impessoalidade autoral, nessa neutralidade estilística, um exercício despretensioso que resiste à ambivalência de uma ambição maior: ter na boca do povo um verso que ganha a rua e se torne anônimo.
Concomitantemente à feitura de Quadras e quadros e obedecendo ao mesmo impulso de abertura finaliza a composição das músicas de poemas, até então inéditos, como Planta Filho, Vem, Sant’Ana, Antoninha, entre outros, e os grava no cd Anéis do Tempo, de 1999. Não fosse por O tapa furado, Histórias e contos médicos, de 2006, a primeira década do século teria sido a de um longo silêncio. O foi, se julgarmos apenas pela poesia.
Resteva, além de ser o que sobra da colheita, nos diz que é a terra – o homem – e não apenas o cultivo – sua criação – o importante para o poeta. Ou, em outras palavras, neste livro mais que em qualquer outro, o autor e seu contexto estão no centro da criação. O amor, o pampa, a cidade e suas praças, a meiga observação da natureza e dos tipos fronteiriços alternam-se com um humor às vezes corrosivo e não isento de amargura. Há menos circunstância em Resteva e mais reflexão. A dicção dos poemas discursivos é coloquial, mas definitória. No lugar de seduzir, filosofa. Nisto, aquele estado de espírito da sua estréia, pleno e maduro, se verticaliza. Aqui ele inventaria suas verdades, pondera incertezas e põe em perspectiva os valores da sua formação.
Acreditar
Para quem não acredita no amor,
todo sofrimento é definitivo.
A esperança adia o fracasso
e este é o prelúdio da decadência.
Para quem não acredita no amor,
triunfa sempre o universal sobre o particular,
os homens são a causa da solidão,
e esta, a contingência exasperante do nada.
Para quem não crê no amor,
a dúvida de si próprio
é a suspeita sobre o gênero humano,
a falência das suas certezas.
Quem não acredita no amor
necessita um credo de instintos
e a disposição de servi-lo.
Entretanto, em meio as considerações inevitáveis, ainda permite que o leitor volte a respirar o lúdico universo de A Ira do Silêncio e Águas siladas. Está o celebrado Palomas – cuja primeira versão talvez tenha sido sua estréia impressa – publicado na revista bilíngüe, O gato viúvo, em 1984. Este poema resgata algo da sua solitária partida de trem da estação Palomas, onde chegara a cavalo com seu pai Dorval vindo da estância do Ibiquí, a três léguas de distância. Ía ao primeiro ano escolar no internato do Colégio Santanense, em Livramento. O mesmo colégio celebrado por ele em um poema, a pedido dos irmãos maristas, no aniversário de oitenta anos da sua fundação, também dado a ver neste Resteva.
Palomas
Velha estação corcunda e parda
corroída de cupim, castigada de inverno.
Emerges da folhagem aspergida
de silêncio. Na tua plataforma
só transita a quebra-pedra
extraviada pelas fendas.
À esquerda, pelo túnel de amoreiras
um menino certa manhã partiu
levando nos olhos e no coração
o susto de abelhas perdidas na cidade.
Depois, rodas fumarentas esmagaram as folhas
dos plátanos no caminho.
Através da chuva gelada ouço,
agora, o sino a bater no alpendre.
Um trem vazio chega e se vai.
Interrogo a estrada, mas dormentes
molhados não guardam rastros de menino.
Palomas é uma saudade sobre trilhos.
E a série de sonetos campeiros, entre os quais Um dia a mais apreende um momento na vida do carreteiro onde nada extraordinário acontece, só a poesia.
Um dia a mais
Dois agudos de cheda seresteira
tira a carreta dos sulcos na estrada.
Apeia-se o gaúcho na poeira,
um dia chega ao fim na carreteada.
Desajojando os bois pela dianteira,
a última junta solta-se cansada.
E a douradilha, de passarinheira,
aponta orelha para os rumos da aguada.
Um piazito sai a catar lenha.
Longe a primeira estrela se desenha.
A cobra chama o sapo em silvo falso.
O guasca mexe-mexe nos embrulhos.
A lagartixa espalha pedregulhos
e o cusco erguendo a perna mija o salso
Faceta não mencionada, meu pai passeia. É um caminhador. Muitos dos seus poemas foram escritos e revisados durante suas longas excursões pelos campos dos arredores e pelas ruas da cidade. Algumas leituras, às vezes, levam-nos a imaginar certos versos formando-se ao ritmo dos passos, absorvendo a paisagem em torno até dar com seus esboços. O pensamento a poetizar-se.
Vida
Podes andar por sendas não trilhadas
e compartir com outros olhos
as transparências dos amarelos remotos
de reinos desconhecidos,
única fortuna dos que caminham.
Podes conhecer a geografia de todos
os povoados, a biografia de seus
paroquianos. Mas se não estiveres
em condições de sentir
a vocação da montanha para a majestade,
a arrogância das cores desafiando as chuvas,
o desvelo do limo decorando o leito dos rios,
a existência do amor nas casas fechadas,
a conspiração de ternura entre os perdedores,
o perdão:
muito acima do que és capaz de perdoar.
Terão sido vãos o vagar de andarilho
e o arrastar das tuas sandálias.
Em Resteva, Getúlio Neves encerra uma trilogia com A Ira do silêncio e Águas Siladas. Nestes volumes, futuramente lidos em um só, estabelece-se como um criador personalíssimo, de voz própria e universo definido. Como se insere na poesia riograndense e brasileira contemporânea é algo que a leitura crítica dirá quando atente aos artesões de ofício, onde grande parte da nossa identidade cultural respira. Este é um poeta existencial, às vezes árduo, às vezes cáustico, mas sempre terno. Seu remo é de folhas. E eu ainda espero pelo Livro de Sonetos.
Thomaz Albornoz Neves
Punta del Este, março 2011
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