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NICHITA STANESCU





                                              Ploiesti 1933 – Bucarest, 1983



DÉCIMA PRIMEIRA ELEGIA
Início dos trabalhos de primavera


I

O coração maior do que o corpo
salta de improviso por tudo
e se abate em cada parte
atrás dele, sobre ele
como uma chuva de lava dilacerante

Tu, conteúdo maior que a forma, eis
o conhecimento de si, eis
porque na dor a matéria nasce de si mesma
para poder morrer
Morre apenas aquilo que conhece a si mesmo
nasce apenas aquilo que testemunha
a si mesmo

Devo correr, tenho me dito,
mas primeiro devo
retornar à alma
na direção dos meus maiores
imóveis,
retirados nas torres dos próprios ossos,
semelhante a medula
imóvel
como as coisas juntas no fim

Posso correr porque eles estão em mim
Correrei, porque somente o que
está imóvel em si
consegue mover-se
apenas aquilo que está sozinho em si
se acasala; e sabe que, não visto, o coração
ruirá precipitando ao seu próprio
centro
ou também
dilacerado em planetas, se deixará invadir
por insetos e plantas,
ou,
deitado ficará sob a pirâmide
como se dentro de um peito estranho.



II

Tudo é simples, tão simples, que
se torna incompreensível

Tudo está tão perto
que se retira
para dentro dos olhos
e não é mais visto

Tudo é tão perfeito
na primavera
que somente rodeado por mim mesmo
o percebo
como o despontar da relva
confessada por palavras na boca
que a pronuncia
confessada pela boca ao coração
pelo coração ao seu centro
que está em si mesmo imóvel
igual ao centro do planeta
que tem em torno a si
um infinito de braços gravitando

envolvendo tudo a si e, do nada,
em um abraço assim tão forte
que o movimento escapa dos braços



III

Correrei, então, em todas partes
simultaneamente,
correrei atrás do meu coração,
semelhante a uma biga
puxada por todos os lados
pelo arranque de cavalos açoitados



IV

Correrei até quando a fuga
me superará
e se distanciará de mim,
como o gomo da fruta da semente,
até quando a corrida
correrá em si mesma, e parará
E eu me jogarei sobre ela
como o jovem amante sobre a amada



V

E depois de ter feito de modo
que a corrida me supere
depois que
movendo-se em si mesma pare
petrificada
igual ao mercúrio no vidro
do espelho,
me olharei em todas as coisas
e as abraçarei em mim mesmo
simultaneamente
e elas
me pulverizarão, depois que
tudo aquilo que era em mim coisa
seja transformado, já de há muito, em todas as coisas.




Comentários

Anônimo disse…
Poeta, quero falar contigo, página no Jornal de Poesia. Soares Feitosa
soaresfeitoisa@uol.com.br

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