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PAN, de Lucien Blaga






Lancram, Transilvânia 1895 – 1961

PAN
Coberto por folhas secas
Pan jaz numa rocha
Está velho e cego
As pálpebras de pedra
Em vão tenta aguçar a visão
mas seus olhos estão fechados, como lesma ao caracol

Nos lábios gotas mornas de sereno
Uma
duas
três
A natureza mata a sede do seu amo

Estende o braço, segura um galho
e apalpa
com leve carícia seus brotos

Da moita um cordeiro se aproxima
O cego o ouve e sorri,
Nenhuma alegria é maior para Pan

que a de ter nas mãos a cabeça dos cordeiros
tatear os cornos entre os cachos de lã

Silêncio

Os bichos em torno dormitam
E também ele boceja
pondera e diz:

– As gotas de sereno estão mornas e grandes
os cornos maduram nas gemas inchadas

É primavera, talvez?




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