...................................................Além do que posso ver
...................................................o universo
...................................................é a falta de alcance da minha visão
O segundo livro do poeta Thomaz Albornoz Neves é lançado depois de uma espera de doze anos. Exílio, um longo poema fragmentado, pode ser lido em partes, mas só atinge sua eloquência quando digerido de uma só vez. Ele é a narrativa das emoções do autor em busca de sua poesia, de sua identidade literária, falando da estranheza diante do mundo das sensações em que o ato criativo o joga. Nesse diálogo pessoal e aparentemente intransferível atinge questões do homem contemporâneo, como a surpresa de não se ver refletido em nenhum dos paradigmas estabelecidos pela pós-modernidade e ser um estranho em um mundo que existe apesar de nós. Sendo assim, todos, de certa maneira, estamos falando e sendo ouvidos na voz do poeta.
Thomaz fala de uma posição superlativa - dado o respeito que temos pela palavra escrita - traduzindo o que sentimos e não sabemos expressar. É o diálogo com o espelho de nós mesmos, do autor, e de uma condição que algumas vezes na nossa vida tão humana, demasiadamente humana, experimentamos.
E onde está a arte, então, já que expressa o que vemos e sentimos diante da realidade que nos cerca? Eis a diferença que se revela: a arte está em traduzir de uma maneira original, dentro de normas estilísticas, um sentimento universal, dito de maneira singular. Ou, ao contrário: um sentimento singular dito de uma maneira universal e simples, que a leitura faz fluir e definir como marca de um tempo imorredouro.
O tempo da sensibilidade e da abstração. O que faz da palavra o dom que nos distingue de todos os outros seres vivos do universo. O que marca em nossa testa, como gado nos corredores do abatedouro, a condição que nos condena: o conhecimento de nossa finitude.
O exílio provocado pela consciência desse saber faz com que homens e mulheres busquem a superação. Alguns, como Thomaz, escrevem. Outros, como nós, colaboramos com parte dessa criação. É preciso haver leitores para que ela exista.
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O exílio provocado pela consciência desse saber faz com que homens e mulheres busquem a superação. Alguns, como Thomaz, escrevem. Outros, como nós, colaboramos com parte dessa criação. É preciso haver leitores para que ela exista.
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Celina Hamilton Albornoz é escritora e tradutora.
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